Vivemos seduzidos, hipnotizados pela ideia do sucesso. Mas, pode estar redondamente enganado quem pensa que o sucesso, genuína consequência de um talento pessoal, traga com ele a felicidade.
Para muita gente, parece que existir na felicidade de fato é quando se tem dinheiro, fama e poder. “O sucesso te destaca da multidão, gera angústia e a solidão de ser alguém singular”, diz o psicanalista Jorge Forbes. Sem padrões rígidos a serem seguidos, muito menos uma receita de vida boa a ser repetida, nosso tempo nos coloca como criança numa imensa loja de brinquedos, com muitas escolhas a se fazer.
E colocar o poder de escolha pela vida, quais caminhos tomar nos coloca, todos os dias, frente aos nossos desejos e isso nos deixa inquietos, ansiosos. Quem tem coragem de assumir essa angústia e deixar de lado que escolham por você?
Quem assume o risco de exercer seus talentos se angustia sempre, pois encara a vida como ela é: um contrato sem garantias. Quem abraça a responsabilidade de ir em busca dos próprios desejos, e ser o que será, é pessoa rara, dona de si. É o que diferencia a pessoa singular das “genéricas”. A maioria prefere abraçar o que lhe acena uma garantia, ainda que falsa. A tal “zona de conforto”.
Para a pessoa de sucesso, famosa, rica, poderosa neste mundo, a primeira das faturas a serem pagas é a da exclusão do grupo, pois o talentoso é bicho raro e acaba não tendo lugar na turma.
A psicanálise sabe pelas palavras de Lacan que “o sofrimento por uma qualidade pode ser maior que aquele originado por um defeito, pois o defeito é solidário e a qualidade é solitária”.
Nossa preferência por ‘receitas prontas’ para se ter alegria derivam justamente da ideia errônea de que felicidade é bem que se mereça.
Em geral, vivemos procurando por alguém que pense pela gente e nos entregue a receita de ser feliz. Há muitos mecanismos criados em nossa sociedade que levam à falsa ideia de que para sermos felizes é preciso antes merecer. E aquilo que chega de repente e nos faz felizes?
Você estará pronto para receber a felicidade, assim, de forma inesperada, sem merecer?
É preciso estar muito apaixonado pela vida para suportar tamanho impacto.
Por Marcelo Lapola colaborador é jornalista e pós-graduando em Física pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) – marcelo.lapola@gmail.com)