Eu assisto ao Big Brother Brasil. E gosto! E não estou interessado em alguém que queira me julgar. Para esses, é bom lembrar do inglês Raymond Williams. Um dos maiores teóricos da comunicação que o mundo já teve nos diz que devemos sempre desconfiar de quem tenta fazer distinção entre alta cultura e a cultura de massas, ou o entretenimento.
Williams e outros teóricos desmascararam essa conversa fiada de que só existe valor em uma determinada manifestação cultural, que alguém definiu como boa e que todo o resto seria alienação. Está mais do que claro atualmente que esse elitismo é conversa desses reacionários, conservadores de boteco, muitos ironicamente nunca abriram um livro sequer para ler.
A gente tem interesse instintivo pela vida doméstica das pessoas. Principalmente quando ela nos é entregue em forma de um show, como espetáculo. E cada um escolhe seu prato favorito para alimentar esse desejo, num cardápio multivariado. Seja no Facebook, no Instagram, no Twitter, tabloides na Inglaterra, revistas de fofoca, ou mesmo a televisão, com o Big Brother Brasil.
Não é à toa que em dia de paredão, às terças-feiras, mais de 80 milhões de pessoas no Brasil estão assistindo ao BBB.
Mas há um Big Brother muito mais profundo, mais sério em nossa vida real/virtual, que cresceu em vigilância. Todas as nossas escolhas estão sendo monitoradas. Desde um simples clique em uma notícia a uma postagem em rede social que fez você abrir o link, tudo é monitorado nos mínimos detalhes. Há no mundo atual algo impalpável e abundante muito mais valioso do que o dinheiro e o poder juntos. São os dados. Cada passo que damos com nossos celulares no bolso, ou mesmo por algum meio de transporte, é monitorado pelos sistemas de localização ativos nos smartphones.
E não é só pela internet, não há mais como fugir ficando off-line. Seu cartão de crédito ou débito, numa simples compra, gera uma grande quantidade de dados: seu nome, o lugar onde comprou, itens comprados, sua identificação e seus hábitos de consumo. Alguém ou algum computador coleta e tem acesso a isso e alimenta algoritmos que monitoram seu comportamento como consumidor.
Vemos uma diluição das fronteiras entre o público e o privado. Muito antes de se imaginar a internet e a evolução dos meios de comunicação, o filósofo Michel Foucault já analisava esse paradoxo entre a visibilidade e a vigilância.
Hoje você passa o seu cartão, ou caminha até a padaria na companhia do celular e pronto, registros são feitos para alguma base de dados que muitas vezes tem mais detalhes sobre as nossas vidas do que podemos imaginar. É comum por exemplo uma administradora detectar se o cartão de alguém foi clonado e usado de maneira criminosa, antes mesmo que o proprietário saiba. Isso com base no histórico de compras da pessoa, o local onde a compra fraudulenta foi feita, entre outros itens.
O olhar das máquinas e algoritmos já está em todo lugar. Além dos dados coletados a todo instante, temos essa infinidade de câmeras nos filmando a todo momento em praticamente todos os lugares. Se há uns vinte anos atrás era possível, hoje ninguém mais consegue se ilhar em sua privacidade, sem ser visto de algum modo. Os olhos do Big Brother, da vida real, estão em toda parte.
Isso nos dá mais segurança, ou nos oprime? Eis a questão.