Os últimos minutos de uma longa espera se parecem muito com a eternidade. Um filho que está para nascer, os olhos correndo a lista de aprovados no vestibular e o encontro marcado para daqui uns dias.
O médico, que após uma bateria enorme de exames entra pela porta para dar um diagnóstico. O pai, na sala de espera da maternidade, que tenta ler antecipadamente no rosto do obstetra se correu tudo bem. Um preso que cumpriu sua pena, há poucos dias de sair de trás das grades. O garoto contando nos dedos o dia do aniversário porque sabe que vai ganhar um novo videogame de presente. São tantos episódios da vida em que ficamos reféns do tempo, à espera, sem nada se possa fazer, que encheriam páginas e páginas. Viver bem talvez seja aprender a dominar bem a arte de esperar.
Afinal, o que vem a ser essa tal eternidade? Difícil definir em simples palavras. Uma das melhores definições é a de Joseph Campbell. Para o grande especialista em religiões e mitos humanos, a eternidade está acima do tempo, este tempo medido por qualquer relógio comprado em camelô. O tempo infinito não consiste necessariamente em um intervalo de tempo sem fim. Pode ser estes últimos minutos de uma longa espera, por exemplo.
Sempre, e cada vez mais ansiosos, encaramos esses minutos com uma duração muito maior que todo tempo da espera. Galopamos no tempo, esse cavalo desgovernado tendo a nossa frente o incerto, o inesperado que muitas vezes é bom, ou não. Imagine o caos em sua vida se você soubesse que amanhã será o dia da sua morte?
Atribuímos à vida uma constância lógica, ordenada. Muita gente acredita em um destino traçado previamente na tentativa de esconder o grande medo diante dos mistérios do futuro. É mais fácil acreditar na linha traçada e iluminada que na floresta escura da vida, à espera de alguém para lhe abrir caminhos. Preferimos o conforto da ignorância dos horóscopos e toda parafernália esotérica aos labirintos da inteligência e da razão.
A alma se sobressalta diante das infinitas possibilidades reservadas pela estrada mal iluminada do futuro. Difícil é aceitar a ideia de que vivemos à mercê das possibilidades, guiados apenas pelo galope cego e acelerado do tempo.
O sobrenatural trava uma batalha com o racional. Bambeando na corda suspensa entre o abismo da vida e da morte, seguimos meio amedrontados. A alegria de viver é justamente o mistério do incerto.
Aguardar para ver o que acontecerá amanhã é o melhor dessa história que compartilhamos neste planeta e nesta época. Apenas com a inteligência egrandes doses de sentimento é que podemos conduzir melhor as coisas futuras. Ou quase todas.
Nos olhos do menino e na expressão mágica de um idoso residem sabedorias semelhantes. O início de uma jornada tem a mesma doce inocência do final. Afinal, somos feitos com o tecido da eternidade.
Por Marcelo Lapola