Foi em busca deles que uma mulher de 28 anos registrou boletim de ocorrência recentemente em Rio Claro, denunciando o que passou durante o parto que aconteceu em abril de 2018.
Devido a complicações de saúde, a vítima só conseguiu fazer o registro dez meses após o ocorrido.
No documento, ela relata a violência obstétrica que sofreu. A mulher declarou que em meio ao trabalho, os profissionais que estavam realizando o procedimento aplicaram anestesia local, mas a paciente continuou sentindo dores. Mesmo assim, os médicos continuaram o procedimento de parto sem que ouvissem a gestante.
Ao insistir dizendo que estava sentindo dor, um dos médicos fez o teste beliscando a barriga da mulher e aí notaram que de fato ela estava sentindo toda a cirurgia. Somente após isso aplicaram a anestesia geral, segundo relato, motivo que fez com que houvesse complicações na saúde da paciente após a conclusão o parto.
Como consta, ela precisou de atendimento rigoroso por se encontrar em estado grave. Foi entubada e ninguém teria avisado os familiares. A vítima não soube informar os nomes dos profissionais.
Conforme o Ministério da Saúde, a violência obstétrica é aquela que acontece no momento da gestação, parto, nascimento e/ou pós-parto, inclusive, no atendimento ao abortamento. Pode ser física, psicológica, verbal, simbólica e/ou sexual, além de negligência, discriminação e/ou condutas excessivas ou desnecessárias ou desaconselhadas, muitas vezes prejudiciais e sem embasamento em evidências científicas.
Essas práticas submetem mulheres a normas e rotinas rígidas e, muitas vezes, desnecessárias, que não respeitam os seus corpos e os seus ritmos naturais e as impedem de exercer seu protagonismo como:
– Lavagem intestinal e restrição de dieta;
– Ameaças, gritos, chacotas, piadas, etc.;
– Omissão de informações, desconsideração dos padrões e valores culturais das gestantes e parturientes e divulgação pública de informações que possam insultar a mulher;
– Não permitir acompanhante que a gestante escolher;
– Não receber alívio da dor.
Segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo, este tipo de violência atinge 25% das grávidas do país.
FEBRASGO anuncia posicionamento oficial sobre violência obstétrica
Com o intuito de qualificar dia a dia a assistência ao parto, de assegurar ininterruptamente que o respeito à autonomia da mulher seja a tônica da relação médico-paciente, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, FEBRASGO, se posiciona.
O entendimento é de que a comunicação clara, o diálogo e o vínculo entre parturiente, família e equipe de assistência ao nascimento é o caminho natural e mais seguro para evitar situações percebidas como violentas, lembrando que algumas ações passam a ser entendidas como Violência Obstétrica quando utilizadas inadvertidamente
“Investir na formação profissional dos médicos que assistem o parto é uma de nossas obrigações”, comenta o presidente da FEBRASGO, César Eduardo Fernandes. “Algumas práticas obstétricas que eram plenamente aceitáveis e indicadas décadas atrás não são mais recomendadas nos dias de hoje. Há uma tendência a ser menos intervencionista na assistência ao parto”.
A FEBRASGO destaca a relevância de as falhas sistémicas serem solucionadas com urgência. Por exemplo, as condições inadequadas para atender à paciente, a falta de leito para interná-la e medicamentos nas prateleiras. Um cenário que representa truculência não só contra a paciente, mas também contra os tocoginecologistas e demais profissionais da saúde.
Sobre o parto cesárea, esclarece ser considerado pelas principais sociedades médicas do mundo como fator essencial para salvar vidas de mães e crianças. “Jamais se pode dar a pecha de violência para o parto cesária”, afirma Carlos Henrique Mascarenhas da Silva, membro da Comissão de Defesa Profissional e presidente da SOGIMIG (Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais).
“Todas as mulheres têm o direito e devem conversar com os seus médicos sobre as vias e formas de parto, vantagens e desvantagens, quando cada procedimento é indicado. O diálogo é sempre fundamental, assim como o respeito à decisão da paciente”, analisou.
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Caso a mulher sofra violência obstétrica, ela pode denunciar no próprio estabelecimento ou secretaria municipal/estadual/distrital; nos conselhos de classe (CRM quando por parte de profissional médico, COREN quando por enfermeiro ou técnico de enfermagem) e pelo 180 ou Disque Saúde – 136.