Compartilhamos uma época em um planeta minúsculo iluminado por uma estrela média, na periferia da Via Láctea, enorme galáxia com seus mais de 100 bilhões de estrelas.
E pensar que ela é apenas uma entre tantos outros bilhões de galáxias. E ainda assim é um privilégio, pois, com nossa inteligência, somos a possibilidade que o Cosmos tem de se conhecer, como Carl Sagan gostava de dizer.
Mas nada nos diz que somos de fato especiais. Ao contrário, a mínima observação da vastidão do Universo, da imensidão do espaço e do tempo, nos serve (deveria pelo menos) como uma lição de humildade. Somos insignificantes. E algo em nossa mente sempre nos avisa disso. Sabemos que um dia vamos morrer.
Mas a gente tende a sufocar questionamentos mais profundos com a imersão na rotina diária. E vai-se vivendo no automático.
Isso tudo vem à tona diante de certos acontecimentos catastróficos, como essa pandemia que não acaba no Brasil, e somos colocados diante da incerteza.
É o velho clichê: A vida é um contrato sem garantias.
A cada instante, temos o desconhecido à nossa espera, pronto para ser entendido, interpretado e principalmente, sentido. Lutamos contra o imprevisível, o inesperado, mas eles estão sempre nos esperando, e mais dia menos dia eles vão dar as cartas. Nos angustiamos quando as coisas vão mal, mesmo quando se sabe que esse mal foi fruto de escolhas conscientes que fizemos no passado. Somos feitos do tecido do imponderável.
Quanta ilusão há na frase: “Está tudo sob controle”.
Somos perecíveis, frágeis, sozinhos dentro de nós mesmos e sabemos que hora menos hora tudo se acaba. Por isso vivemos aí correndo para abraçar algo que nos dê alguma garantia. Há sempre a sensação de vazio a nos perseguir. Assombra-nos a simples ideia de que um dia, com muita sorte, seremos apenas lembrança na mente de alguém, ou uma foto esquecida em um celular antigo que nunca mais ninguém carregou, no fundo de uma gaveta de um móvel antigo.
Na ilusão que temos por controle absoluto da vida e seus processos cotidianos, acabamos por confundir a vida com ciência exata.
Quantas vezes agimos de um jeito com os outros esperando um resultado e nos decepcionamos. Ou o contrário, nos impressionamos positivamente com alguém que não dávamos a mínima.
E com os filhos, por exemplo? Muitos pais educam dão o mesmo amor, dedicação, na mesma casa, mesma família e tudo o mais, e acaba que cada um segue um caminho diferente, com diferentes personalidades.
Não há fórmulas ou leis naturais que nos conduzam à “boa criação” de um filho, ou para ser ainda mais geral, na formação, no toque a outro ser humano.
Por isso é tão urgente quanto a escola, mais importante que toda a ciência e conhecimento, mais necessário que os livros: precisamos de uma nova geração que saiba amar, com amor nas suas mais diversas formas, mais do que a gente aprendeu. O outro, o mundo, a vida. Amar, com altruísmo, sabendo se colocar de fato no lugar do outro, sem hipocrisia. Sabendo e praticando a palavra perdão também, fundamental para novos tempos na Terra.
Uma geração de jovens que nos ensinem a sermos humanos muito além, muito mais do que a gente acha que sabe.
Só assim, poderemos transformar o planeta e a sua época, consertar o que precisa ser consertado. E então, mesmo em meio à toda tecnologia, computadores inteligência artificial, toneladas de dados conectados e ditando regras e tendências, haverá amor, calor humano. E a alteridade deixará de ser coisa rara. Quem sabe até a inteligência artificial evolua também para a emocional? E humanos e máquinas juntos de fato transformem o que precisa ser transformado. Podemos plantar hoje essas sementes.