O Diário do Rio Claro traz nesta edição uma entrevista com o professor da Unesp Alexandre Perinotto que desde 2013 atua à frente do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) da Unesp de Rio Claro. Em 2013, tendo o Prof. Dr. Sergio Roberto Nobre como Diretor, assumiu a Vice-Diretoria do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE), com gestão de 2013 a 2017. De 1º de fevereiro de 2017 a 31 de janeiro deste ano, tendo o Prof. Dr. Edson Denis Leonel como seu Vice-Diretor, esteve à frente da Administração do IGCE. Portanto, somando a Vice-Diretoria e a Diretoria, esteve por oito anos atuando na Administração Universitária do Instituto. O professor destaca as conquistas e dificuldades enfrentadas ao longo dos anos, principalmente, durante o período de pandemia e ainda os próximos desafios.
Diário do Rio Claro: Neste período, quais considera as grandes conquistas do IGCE?
Alexandre Perinotto: Não diria que foram conquistas somente do IGCE, mas do nosso câmpus da UNESP de Rio Claro (que, além do IGCE, tem também o Instituto de Biociências – IB). Nesses oito anos conseguimos “urbanizar” uma boa parte do câmpus. Lembro que onde é hoje a movimentada Avenida Ulysses Guimarães (ao lado da UNESP) tínhamos, na época, a chamada “faixa de Gaza”, uma estrada em terra, com lixões, muito mato e abandono. Com a construção da avenida (que para seu traçado utilizou parte do terreno da UNESP), conseguimos asfaltar parte de nossas vias internas naquela área. Também concluímos a construção de calçadas em todo o perímetro do câmpus, melhoramos a iluminação e trabalhamos muito para manutenção e o aprimoramento de nossa infraestrutura física que, hoje, consegue oferecer um bom ambiente de trabalho e, também, proporciona segurança à nossa comunidade e para os visitantes. Nossos cursos de graduação e de pós-graduação mantiveram ou melhoraram o nível em avaliações externas e nossas pesquisas conseguiram, pelo mérito de nossos professores pesquisadores, destaques nacionais e internacionais, contribuindo para o avanço do conhecimento científico.
Diário do Rio Claro: Quais as dificuldades encontradas?
Alexandre Perinotto: Foram muitas, mas as principais estão concentradas no financiamento da universidade pública. A UNESP (juntamente com USP e Unicamp), para sua existência e desempenho de suas funções, depende, fundamentalmente, do repasse da cota parte do ICMS (imposto sobre mercadorias e serviços) proveniente do Governo do Estado de São Paulo. Desde 1995 as três universidades públicas paulistas recebem a mesma porcentagem de 9,57% do ICMS líquido. O problema, que gera muitas das nossas dificuldades, é que este imposto é muito sensível à atividade econômica e em épocas de crise, o valor repassado diminui aquém de nossas necessidades essenciais. Desse valor de 9,57%, cabem à UNESP 2,34%. Em 1995, quando este percentual foi estabelecido tínhamos uma realidade muito diferente da atual. A UNESP praticamente dobrou suas despesas. Isto não porque somos irresponsáveis e gastamos mais que devemos e podemos, mas, com o passar do tempo, atendendo ao próprio governo paulista, foram criados novos cursos e novos câmpus, o número de vagas oferecidas também aumentou e com isso houve a necessidade de novas contratações. Novos projetos foram surgindo em todas as áreas e nova infraestrutura foi sendo necessária. Tudo isto, com os mesmos 2,34% do ICMS. Resultado, que estamos experimentando tristemente nos últimos anos: não há renovação/reposição de nossos professores e funcionários que se aposentam, se desligam ou (infelizmente) falecem. Com isto, mesmo avançando o nível de nossos cursos, incrementando laboratórios e pesquisas, os quadros funcionais estão diminuindo muito. Departamentos foram extintos e a carga de trabalho para quem permaneceu está grande. Além disso, existe um desestímulo de ordem salarial pelo não reajuste equivalente aos índices inflacionários e não equiparação com USP e Unicamp, bem como com o restante do mercado, diminuindo sensivelmente o poder aquisitivo de nossos funcionários como um todo. Em resumo, as atividades todas tiveram um incremento e o número de pessoas, ao contrário, teve um decréscimo, recebendo salários defasados. Por último, e de grande impacto, foi este ano de 2020. Ninguém, em termos planetários, estava preparado para enfrentar a pandemia da COVID-19. As aulas presenciais, que são a vida da Universidade, foram suspensas em meados de março de 2020 e tiveram que ser ministradas de modo emergencial remoto e isto trouxe complexa mudança de paradigmas para todos nós; as pesquisas sofreram impactos diversos e as atividades de extensão foram suspensas. Além disso, devido às restrições na economia, conforme já relatado, passamos a receber, durante um tempo, valores menores no orçamento para cumprir com nossos compromissos que tiveram alta nos custos. Uma figura metafórica que mostra bem isso é imaginar que tivemos que trocar os pneus do carro com ele em movimento.
Diário do Rio Claro: Quais desafios o próximo diretor deve encontrar?
Alexandre Perinotto: Além da histórica e urgente reposição do quadro funcional (docentes e funcionários técnicos-administrativos), que conforme já exposto, está muito aquém do ideal, um dos principais desafios nestes próximos anos será conviver e administrar os problemas advindos com a pandemia (mesmo com a necessária e urgente vacina) e a retomada das aulas, principalmente as aulas práticas em laboratórios e no campo. Temos também que implementar e melhor desenvolver as atividades de forma remota porque ainda seremos obrigados a manter os protocolos sanitários por longo tempo (mesmo após as campanhas de vacinação).
Diário do Rio Claro: Qual a contribuição da UNESP para Rio Claro nos últimos anos?
Alexandre Perinotto: Desde que foi implementado o Ensino Superior Público em Rio Claro (1957/1958), com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, depois UNESP – Universidade Estadual Paulista, em 1976, a nossa universidade vem contribuindo muito positivamente com a comunidade rio-clarense: formando nossos jovens, tornando-os profissionais com alta qualificação, tanto nos cursos de graduação (no nosso câmpus são oferecidos 10 cursos), como nos de pós-graduação (mestres e doutores aqui formados atuam em todo o país e no exterior); projetando o nome de Rio Claro devido às pesquisas de elevado nível aqui realizadas, com premiações e reconhecimentos nos cenários nacional e internacional, como, por exemplo: o centro de Geologia Aplicada ao Petróleo (UNESPetro), o centro de Estudos de Insetos Sociais (CEIS); o Centro de Estudos Ambientais (CEA); o Laboratório de Estudos de Bacias (que trata de águas subterrâneas) e muitos outros; desenvolvendo projetos de extensão para e juntamente com a nossa comunidade, como exemplos, entre outros, do Centro de Economia Solidária, o Centro de Análise e Planejamento Ambiental (CEAPLA), as atividades do Departamento de Educação Física voltadas para a terceira idade (envolvendo portadores de Parkinson e Alzheimer), os grupos de agroecologia e tantos outros projetos; além de tudo isto de muito positivo, a UNESP impacta bastante a economia da cidade. Por ano, injetamos no município cerca de R$125 milhões (incluindo cerca de R$10 milhões gastos pelos estudantes com o aluguel de casas e quitinetes). Este valor corresponde entre 25 e 30% dos impostos arrecadado pela Prefeitura Municipal. Portanto, além de cumprir com suas finalidades primordiais de Ensino, Pesquisa e Extensão, a UNESP, como universidade pública, gratuita, inclusiva e autônoma, bem projeta o nome de nossa cidade, e contribui significativamente com a nossa economia.
Eleitos
Os professores doutores Edson Denis Leonel e Elíris Cristina Rizziolli foram eleitos, respectivamente, Diretor e Vice-Diretora do Instituto de Geociências e Ciências Exatas-UNESP-Câmpus de Rio Claro para a gestão 2021-2025.
Por Vivian Guilherme / Foto: Divulgação