Uma tarde de verão, minha filha, ainda pequena, brinca de soltar bolhas de sabão no quintal de casa. Ela se maravilha com a quantidade de bolhas que baila no espaço e reflete o sol em sua finíssima camada, tão frágil, delicada e, por pouco tempo no ar, ela explode no chão.
A bolha de sabão surge do sopro, é matéria altamente perecível e impermeável, é translúcida e reflete tudo o que está ao redor. Isso parece ser o retrato perfeito de uma existência. Surge do sopro fecundo da vida, vai se modificar e terminar e, assim como reflete tudo o que está ao seu redor, também contém dentro dessa bolha transparente de vida onde todas as coisas que espelha.
Isso é a realidade. Não é algo que foi, nem algo que será. É essa frágil bolha de sabão que representa o instante exato. E pode ser puro deslumbramento se você for capaz de compreender quão etéreo e sublime é o momento. Ou será uma dolorosa experiência se quiser se apegar a determinada bolha.
Não dá para armazenar, nem para manter uma bolha de sabão. Só dá para apreciá-la no momento. Não viu, perdeu.
E quantos momentos você perdeu? Quantos instantes escorreram pela mão enquanto estava distraído olhando outra coisa? O grande desafio da vida é acordar para o instante, focar no agora. Quando você faz planos para o futuro ou pensa no que passou, fica difícil estar no presente. E aí você perde o milagre de sua vida, o agora.
Muita coisa está acontecendo ao seu redor agora, mas você somente consegue perceber muito pouco do que está vendo, ouvindo e sentindo.
Somos limitados pela experiência ao nosso redor, estamos distraídos e deixamos de perceber que somos o espelho que reflete tudo o que está ao nosso redor, semelhante a uma bolha de sabão.
Enquanto minha filha solta as bolhas de sabão e entra na brincadeira de criança, eu penso que as bolhas continuam surgindo mais e mais e você possa navegar na realidade presente. Tendo a sorte de continuar a receber e contemplar as bolhas do momento, mas em determinado momento essas bolhas irão cessar e o que foi vivenciado foi, o que não foi, perde-se.
Talvez seja hora de reaprender a brincar. Uma criança não para de brincar porque as bolhas se foram e outras apareceram no seu sopro. Ela mergulha no instante e vive plenamente o momento. Essa capacidade de brincar é um atributo da habilidade humana de divertir-se, palavra latina que tem como raiz o diverso, a diversidade, o sempre novo. Divertir-se é renovar-se continuamente, é experimentar cada instante como novo.
Minha filha podia brincar cem vezes da mesma coisa, com a mesma energia e a alegria contagiante como se fosse a primeira vez. O tédio é a falência da imaginação. Ame o que você faz, se divirta fazendo isso e assim poderá superar o tédio e viver em total plenitude a vida. Pense nisso!