Uma criança catando latinha na rua: que absurdo!
► Os doutos se aglomeram com cuidado, os pobres têm a sorte que carregam. A classe única, talvez, o último grito de misericórdia de uma escola que há anos estava desconectada com a realidade. Ignoram, os ignóbeis, os estudos, preocupam-se com as reuniões promovidas desde o início da pandemia, as idas à praia, aos passeios para lanches noturnos, tudo com cuidado. Por vezes, provas, notas, punição, ação punitiva, o santo graal de uma vida vazia. São eles, pois, os detentores da intelectualidade genuinamente brasileira.
► O paradoxo voraz que corre no último centímetro do fio condutor da autoridade intelectual, do congraçamento social, mordaz, repugnante que violenta os filhos do lamaçal que transformou os becos brasileiros eaprisionam os doutos em seus castelos de areia ou no interior dos moinhos de vento…
►São eles, unidos em prol dos seus interesses. O supra sumo, o colibri da esperança numa terra morta, envenenada por uma educação que nunca emancipou. Gritam por polpudos salários, já que sem eles, não há educação que preste. Empanturram-se de bolos, guloseimas, em salas climatizadas, discutem banalidades e os “idiotas” que não enxergam os verdadeiros valores da vida. Riem alto, fazem lembrancinhas, riam mais um pouco, discutem sobre receitas e a doença da pobreza. Conversa que para por alguns instantes, pelo vão da janela alguém compadece: -Olha lá, uma criança catando latinha na rua: que absurdo!
► “Como primeira observação, lembremos que a cidadania se dá segundo diversos níveis. Sobretudo neste país, todos não são igualmente cidadãos, havendo os que nem são cidadãos e havendo os que não querem ser cidadãos, aqueles que buscam privilégios e não direitos.” – Milton Santos.
► Eis o paradoxo no grito pandêmico que reutiliza de falsos argumentos para solapar a comida oferecida, “cada um tem a vida que escolhe” disse ela. Será mesmo?
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