Um plano que não pode ser mudado não presta
► Públio Siro já dizia: “Um plano que não pode ser mudado não presta”, isto é, um bom planejamento não pode ser imutável. Algo imutável é aquilo que não pode ser mudado ou alterado. Será que o conhecimento é imutável? Não, não pode ser! A filosofia também não pode ser algo imutável, e não é. O conhecimento e a filosofia devem ser flexíveis, que vem de “flexão”, isto é, algo que se curva ou se dobra sobre si mesmo; por exemplo, um pensamento reflexivo é aquele que pensa a si próprio, um pensamento que investiga e avalia a si mesmo, validando conceitos e ideias.
► Mas por que é que um planejamento não pode ser imutável? Simples, para que não fiquemos presos num pensamento só, para que possamos ficar abertos a novas ideias e dispostos a mudar quando for preciso.
►Aí entra outro conceito, devemos sim ser flexíveis, mas não confunda flexibilidade com volubilidade. Erat volubilitas, dito em latim, é um adjetivo para algo ou alguém que se move com facilidade, instável; uma pessoa volúvel é aquela que por qualquer coisa muda de opinião, aquela que vai onde o vento leva e não sabe para onde vai. Inclusive, uma das qualidades da filosofia é propriamente esta de não nos tornar volúveis, e sim flexíveis.
► Voltando ao conceito flexibilidade, é preciso ter cautela e não confundir uma pessoa de pensamento flexível, que dobra sobre si, com uma pessoa que só olha para si, isto é, o chamado idiota; o próprio “id” da palavra idiota é um prefixo para “próprio”; a sua carteira de identidade, por exemplo, é algo propriamente seu.
► Um plano que não pode ser mudado não presta! Tu quer exemplo? Um estudante que sonha em ser engenheiro, ele vai e faz faculdade de engenharia, mas no meio do curso ele não vê mais sentido naquilo; ele pode falar: “Mas eu vou continuar, afinal, só faltam mais cinco semestres pra eu acabar logo isso”, mas será que compensa? Vamos supor que ele tenha descoberto um desejo em fazer filosofia para dar aula, vai ter gente para falar que não vai dar certo, dizendo que ele vai largar tudo para ganhar pouco e, quem sabe, haverá quem diga que isso não presta. Mas será que compensa mesmo ele insistir em algo que não gosta, trabalhar com algo que não gosta para ter um bom salário? Eu penso que não, o plano dele mudou, e se ele realmente quer outra coisa que o fará bem, não há problema algum em mudar o seu plano, afinal, um plano que não pode ser mudado não presta.
► E, portanto, já neste tema de construção do futuro, eu penso que a pior coisa é fazer algo que não gostamos por dinheiro, devemos fazer aquilo que a gente gosta e que nos faz bem, pois a vida é muito curta para perder tempo fazendo o que a gente não gosta.
► *Sabinadas é escrita por Kauhan Sabino, poeta e idealizador do Jornal Quincas Borba da escola Marciano de Toledo Piza, participante da Rede Camões desde 2020.
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