Francis Scott Fitzgerald (1896-1940) viveu na prática a premissa de outro grande escritor, Jack Kerouac, que dizia ter como norma “viver intensamente, escrever livros, morrer feliz”.
Kerouac, contemporâneo de outros não menos outsiders, Allen Ginsberg e William Burroughs, tudo leva a crer, conseguiu o seu intento. Pouco provável, porém, que Fitzgerald tenha morrido feliz vez que cerrou os olhos para este mundo, doente, esquecido, falido e com a vida amorosa e financeira arruinadas.
Seu amigo Ernest Hemingway fez gracinhas de mau gosto imerecidas para com ele, no livro “Paris é uma festa”. Mas o nosso sempre atuante memorialista Ruy Castro, admirador de ambos, tratou de redimi-lo ainda que de maneira sincera e realista no ótimo “O Leitor Apaixonado” (Cia das Letras, 368 págs.), que eu recomendo.
Hemingway, autor do incomparável “Por quem os sinos dobram”, herói da 1ª. guerra mundial, meteu um balaço na boca com um fuzil de caça, aos 61 anos. Estava diabético, hipertenso e depressivo. Num de seus pensamentos mais conhecidos, Hemingway assim se expressa: “Moral é o que te faz sentir bem depois de tê-lo feito, e imoral o que te faz sentir mal”.
Fitzgerald autor de “O Grande Gatsby”, livro que eu daria tudo para ter escrito, é um dos meus autores favoritos, dono de um estilo preciso e elegante no trato com as palavras, com as quais descreve situações da vida cotidiana de seu tempo que marcam profundamente as personas envolvidas. Faleceu num 21 de dezembro, portanto, há 78 anos. Consta que ele teria dito: “Vitalidade não é só a capacidade de persistir, mas também a de recomeçar”.
Scott bem que tentou recomeçar várias vezes, mas a desilusão para com a vida e o consumo desmedido do álcool não o permitiram.
Recentemente, conclui a leitura de “A Irmandade da Uva” um dos bons romances de John Fante, outro de meus autores favoritos, que trata da tentativa de reaproximação do bem sucedido escritor John Molise, com o pai, Nick, 75 anos, péssimo marido, jogador inveterado, de mal com a vida, e que resolve deixar a esposa, após 50 anos de casados.
Amar as pessoas que tem o vício do álcool não é tarefa fácil, por mais adoráveis que elas sejam, por mais competentes que sejam na profissão que abraçaram, sempre chegará um momento em que, vencida pelos efeitos do vício, elas irão nos decepcionar. Farão ruir num instante, o castelo de sonho e esperança, o qual construímos com elas, dia a dia.
Mas amá-las é inevitável e, por vezes, irresistível. E esse é um dos mistérios mais instigantes da vida. Zelda Fitzgerald, esposa de Scott, que o diga. Também escritora, dançarina e pintora, ícone da sociedade norte-americana da década de 1920, nem tanto pelo seu talento, mas pelo seu modo audacioso de levar a vida, terminou os seus dias, esquizofrênica, num incêndio ocorrido no hospital psiquiátrico onde estava internada, sete anos depois da morte do marido ilustre. Era alcóolatra tanto quanto ele, e jamais deixara de amá-lo.
John Fante, que na juventude, comeu o pão que o diabo amassou, morreu em 1983, aos 74 anos, diabético, cego e sem as pernas, resultado da vida desregrada que levara, mas, principalmente, do alcoolismo ao qual não resistira.
É mais conhecido pelo seu célebre romance Pergunte ao Pó, que, por sinal, foi a tábua de salvação de outro grande escritor e poeta, que fizera da bebida a sua melhor companhia: Charles Bukowsky. A essa altura o leitor deve ter chegado à mesma conclusão que Ernest Hemingway que dizia: “A felicidade em pessoas inteligentes, é das coisas mais raras que conheço”. Até a próxima, queridos leitores, e um ótimo dia a todos!
Parabéns pelo artigo Geraldo, quem teve alguém com este problema pode entender muito bem. Abraços.