Estava conversando com minha filha, dia desses e, ouvindo-a falar com desenvoltura e toda argumentativa, de repente foi tomado de assalto por um pensamento: “Nossa! Cecília vai fazer dez anos!” Meio clichê, mas é isso mesmo, “parece que foi ontem” que ela nasceu. “Dez anos, assim, já!?”
E pode parecer loucura, mas já penso na adolescência. Como eu vou lidar com essa fase, com a qual tantos pais se deprimem, por ser ruptura, uma espécie de constatação de que aquela criança “que um dia morrendo de medo, nos teus braços você fez segredo”, não existe mais.
A adolescência, o projeto de uma vida adulta em mentes ainda confusas.
O corpo, a mente que vai se transformar e em pouco tempo renascer para uma vida mais independente, pronta para primeiros encontros, olhares, desejos e muitas, muitas ilusões.
Muito mais do que ser rebelde, desobediente, está aí uma pessoa que se descobre gente e sua inteligência incomoda com tantas perguntas, questionamentos.
E as imagens antes opacas, idealizadas, ofuscam a visão de tão nítidas que se tornam. É quando nos tornamos adolescentes que passamos a enxergar os defeitos e fraquezas dos nossos pais. Ah, e tem também aquela fatídica fase de achar tudo e a todos um porre. Sem contar a timidez, e a falta de autoconfiança no nível 10.
Por essas e outras, penso já na adolescência da minha filha. Por que também há aquele mito de que a melhor fase da vida é quando somos jovens. Mas um simples exercício de memória faz essa crença provar-se falsa.
Como vou lidar com a hipótese de minha filha chegar em casa, sofrendo por gostar de quem não gosta dela, e eu, narcísico por definição, não poder modificar essa realidade? Quantos olhares não correspondidos, quanta angústias que sufocará no travesseiro, quantas inseguranças?
A gente torce para que não aconteça, mas acontece com todos os adolescentes. E a diferença é que uns contam em casa, outros não. Ou você não lembra disso, ou finge não lembrar?
Quanto nos escondemos, adolescentes ainda, por trás dos amigos e fomos reféns do sentimento de querer ser aceito no grupo? Quanto chorar sozinho um choro mudo e previamente incompreendido por quem parece ignorar que também já foi um dia um adolescente?
É também um tempo de uma primeira lucidez que marca o despertar da criatividade e do desejo de ser cuidado. Em seus ombros depositam o pesado fardo da expectativa das realizações, muitas vezes frustradas dos pais.
Como se engana quem reduz um adolescente a uma simples caricatura desengonçada, meio criança meio adulta, que não olha nos olhos, não sabe o que fazer com as mãos e se tranca no quarto parta horas intermináveis de computador.
Que trágico equívoco também dizer que essa idade é a mais feliz porque é quando se vive mais intensamente. Exagero.
Mas afinal, porque quando ficamos adultos invejamos tanto liberdade deles a ponto de querer reprimi-la?