Há perguntas que nunca terão respostas. Ao menos é o que parece. Desde o primeiro lampejo de inteligência em um ancestral nosso, não paramos de fazer perguntas e ir em busca de respostas. E novas questões sempre surgem, ampliando a fronteira com o desconhecido na mesma medida em que nosso conhecimento se expande.
Isaac Newton se sentia como “um menino brincando à beira-mar, divertindo-me com o fato de encontrar de vez em quando uma concha mais bonita que o normal, enquanto o grande oceano da verdade permanece completamente por descobrir à minha frente”.
Uma questão que nos acompanha desde a Antiguidade com os gregos é qual a verdadeira essência de tudo: aquilo que se transforma sempre ou o que é imutável? Em termos filosóficos é trata-se da diferença entre o Ser (imutável) e o Devir (que sempre se transforma).
Um dos registros mais antigos desse debate deve-se ao grego Parmênides. Nascido em 530 antes de Cristo, ele dizia que para ir em busca do que chamava Verdade sobre a existência não deveríamos perder tempo com coisas passageiras e tentar buscar aquilo que é eterno, imutável.
Anos mais tarde e influenciado pelas ideias de Parmênides, Platão escreveu que tudo o que vemos e sentimos não é real, mas uma visão distorcida da realidade. Para Platão, o verdadeiro, a essência de tudo está no mundo das ideias, imutável e eterno.
Bem, claro está que o judaísmo, e mais tarde o cristianismo se basearam nessa ideia. No que Platão chamava de “mundo das ideias”, o cristianismo colocou seu conceito de Deus. Imutável, eterno e onde reside a Verdade de tudo. Nietzsche com sua acidez demolidora dizia que o cristianismo é “Platão para as massas”.
A maioria de nós cientistas não damos conta de que essas ideias de Parmênides e Platão ainda estão em nossas buscas.
Na Física, especialmente, sempre nos amparamos e buscamos leis da Natureza que amparem nossa descrição. E essas leis, numa primeira vista, parecem imutáveis e válidas em todo o Universo. E se não mudam, são apenas aperfeiçoadas, como o fez Einstein em 1917 com a lei da gravitação universal descoberta por Newton em 1687. Essas leis naturais e sua busca perecem muito com uma versão aperfeiçoada da busca pelo Ser (imutável) de Parmênides.
Até o momento, mesmo com os avanços da Cosmologia para as grandes escalas de medida e da Mecânica Quântica, para o mundo atômico e subatômico, não há indicação de que há violações nas leis. Pelo que sabemos até o momento, as leis da Natureza permanecem imutáveis ao longo do tempo.
Mas, ainda assim, tudo muda ao nosso redor. O Universo está sempre em transformação. Do nosso envelhecimento ao nascer e evoluir de uma estrela, nada é permanente e definitivo. Até mesmo o tempo e o espaço passaram a existir a cerca de 13,8 bilhões de anos, com o Big Bang. De lá para cá, o Universo passou por algumas eras e continua se expandindo, aceleradamente.
Tudo é fluxo. “Tudo muda o tempo todo, no mundo”, diz a bela música do Lulu Santos. Logo, onde está a verdadeira essência do Universo? Nas transformações ou nas leis da física que não mudam?
Aí na Ciência, assim meio escondida, está a pergunta de Parmênides. Ao que perece, 25 séculos depois, a questão levantada na Grécia parece longe de uma resposta satisfatória. Mas ao mesmo tempo um Universo sem leis não está separado de seu caráter de mudança. A realidade precisa dos dois. E assim essa questão parece falsa. O fluxo não está separado do que não muda.
Mais ou menos como na vida. Ao mesmo tempo em que preservamos valores e o caráter, também devemos aceitar e nos adaptar às mudanças que são inevitáveis.