Transformação digital e utopias
► A transformação digital é fundamental, processo matriz e basal para que governos se tornem mais democráticos. Ela é o pilar para a implantação de outros princípios das administrações modernas. Há, portanto, uma necessidade de pautar planos de governos sobre esse viés. Todavia, deve-se priorizar uma transformação digital que seja transparente. Segundo degrau dessa escalada rumo a modernização do Estado.
► A partir do momento que todos os processos governamentais possam ser disponibilizados na internet, promovendo a celeridade e a transformação digital do governo, a transparência deve ser outro valor que deve seguir tais conjuntos de ações de modernização. Mesmo com as barreiras de acesso à rede, disponibilizar de forma transparente os atos do governo, num ambiente de utilização de um sistema aberto e cooperativo como, por exemplo, o desenvolvido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª região, ressignifica o controle social sobre os atos do governo.
► Então, no governo moderno e imaginário, nesse momento, todos os processos e atos estão disponibilizados, um serviço ao governo e à própria população. Tais sementes, ainda, provocam uma mudança silenciosa: o enfraquecimento da barganha. Ora, se tudo está online e disponível, seguindo critérios próprios, o poder do “eu vim a pedido de fulano” perde a força. Não elimina, mas enfraquece. Esse é o feito que tais medidas podem de fato ocasionar.
► Veja bem, não adianta ter políticas públicas, sem um sistema de transparência, pois no mundo analógico e sem transparência, o “filho de fulano de tal” sempre conseguirá uma aresta para se beneficiar das ações governamentais.
► Posto isso, acredito que estou otimista em relação ao impacto não mensurável de tais ações dentro dos governos. Tenho visto êxito em muitas dessas iniciativas. Dentro da sociedade do espetáculo, primar por um governo mais transparente, ético e próximo pode garantir o êxito.
Aqui entra o último tópico deste pequeno artigo, garantir “êxito nas ações políticas”, aqui entra o “para que fazer isso” ou para entregar produtos aos clientes? Ou ainda: para atender a exigência dos consumidores? No meu caso, nem um e nem outro. Essa é uma questão ideológica que não é negociável. O governo precisa atender e incluir a todos os brasileiros, esse é o maior desafio que a transformação digital pode atingir. De nada adianta lutar para manter o privilégio de poucos.
► Há uma imensidão de pessoas que estão a viver à margem da Constituição Cidadã, que no último dia 24 de março, completou 34 anos. Todo o processo de modernização deve estar focado: primeiro nos marginalizados, segundo nas pessoas de maneira geral ao melhor estilo design thinking de políticas públicas, ou seja, ancorado nos três pilares: a empatia, a colaboração e a experimentação. Como disse Ulysses Guimarães, no discurso proferido na sessão de 1º/02/1991: Toda a história política tem sido a da luta do homem para realizar, na terra, o grande ideal de igualdade e fraternidade.
► Antonio Archangelo é professor, pesquisador e gestor.
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