“Despedir sem dizer adeus, algo difícil, mas infelizmente comum entre os militares”, com esta frase que um dos policiais expressou a dor pela perda do amigo que partiu tão cedo, aos 41 anos, na verdade, teve a sua vida tirada por criminosos. “Aprendemos a cada dia que sempre devemos deixar as pessoas com boas palavras, pode ser a última vez que as vejamos. Mais um irmão que honrou com o juramento e se doou com o sacrifício da própria vida”, mencionou em rede social o amigo e soldado PM Roberto Mahas.
O profissional que serviu à sociedade por 10 anos na Polícia Militar, foi exímio e deixou seu legado. “Exemplo de policial, profissional ímpar, nos tratava com muito profissionalismo, amizade, um pai surpreendente, cuidava das filhas como ninguém, era um exemplo para gente”, mencionou ao Diário do Rio Claro o Cabo PM Eduardo da Rocam.
Parceiro de equipe, o soldado PM Rodrigo mencionou que era visível o amor do Cabo Tom pela profissão. “Um policial que amava o que fazia, era dedicado, atencioso, tinha paciência pra ensinar os policiais mais novos, sempre que podia ajudava os companheiros, um policial que dificilmente demonstrava algum estresse que poderia ter do dia a dia, era calmo, tinha um excelente relacionamento com todos. Consequência do bom relacionamento e da convivência que tínhamos, éramos amigos pessoais também no horário de folga, fazíamos confraternizações entre amigos, praticávamos corrida juntos, ensinava e aconselhava um ao outro. E acima de tudo, ele amava e se preocupava com sua família. Vai fazer falta no nosso dia a dia na rua, no alojamento, nas corridas e principalmente pra sua família”, lamentou o soldado ao falar da grande perda.
Um laço de amizade foi construído também com o Cabo Doricio, grande parceiro dentro e fora da corporação. Um dos amigos de farda mais próximos do Cabo Tom, mesmo diante de tanta dor e sofrimento de dias difíceis conversou com a equipe do Diário do Rio Claro e demonstrou sua admiração e amor pelo parceiro, algo que era recíproco demonstrado no dia-a-dia. “Tenho a difícil missão de dar um depoimento sobre meu parceiro de ROCAM e difícil porque posso deixar de fora muitas coisas que minha memória podem não alcançar, difícil porque o Cabo TOM marido, o Cabo TOM pai, o Cabo TOM genro, o Cabo TOM amigo, o Cabo TOM patrulheiro, certamente tinha em sua intimidade muito mais do que eu possa representar nas palavras, porém, dará uma pequena ideia do que perdemos na fatídica tarde da última quarta-feira”, disse emocionado.
Cabo Doricio observa que a gratidão faz parte dos seus dias. “Sou grato a Deus por tudo que me dá, tenho muito mais a agradecer do que a pedir e sou muito grato como muitas pessoas pela oportunidade de ser amigo do Cabo TOM. Tê-lo perdido tão assustadoramente nunca irá apagar a gratidão de tê-lo por anos do nosso lado. O TOM me apresentou diversos amigos seus que hoje posso dizer que são meus amigos. Pessoas do bem, de bons corações, pessoas idôneas, amigos sinceros”, agradece.
O policial militar declara ainda que Tom era quase seu mentor e que sempre quando iniciavam o serviço sempre o consultava, relembra os diálogos. “E ai meu amigo qual a missão para hoje…” E ele sempre me respondia: “você que manda Dodô”. Assim ele me chamava Dodô. Mas ao mesmo já vinha com suas sugestões e assim mais um dia de patrulhamento dividiríamos em defesa de você leitor”, destacando ainda o conhecimento que o Cabo Tom carregava e dividia com os amigos. “Ele conhecia de quase tudo, armas, corrida (sua paixão), a história de nossa cidade (mesmo natural de Corumbá, MS) e muitos outros assuntos, sabendo disso, em um dia que fomos fazer a segurança de árbitros em um jogo de futebol. O jogo era entre Velo e Rio Claro e eu fui cutucá-lo: “Tom o que é um Dérbi?” e adivinhem recebi uma “aula” e lembro-me quando ele começou a explicar: “tudo iniciou na Inglaterra quando…” Nunca mais o desafiei. Tom era inteligente e dono de uma grande memória”, observou Cabo Doricio.
A missão do Cabo Tom foi cumprida, infelizmente, encerrada precocemente, aos que ficam cabem seguir em frente. O TOM fará muita falta para todos nós. “Perdi um grande amigo, um grande parceiro. Vocês também perderam um grande amigo e um grande aliado na luta do bem contra o mal. Sinto o peito a todo o momento apertar e a dor da saudade aumentar. Vou procurar ajuda nos parceiros para suportar sua falta, sua ausência, meu querido amigo”, finalizou o Cabo Doricio.
CARREIRA
O Militar do Estado ingressou nas fileiras da Corporação no dia 18 de outubro de 2010 como Soldado PM de 2ª Classe e em 17 de outubro de 2012, findado o estágio probatório foi promovido a Soldado de 1ª Classe PM, tendo sido promovido por mérito em 09 de julho de 2019 à Graduação de Cabo da gloriosa Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Serviu por toda sua carreira no 37º Batalhão de Polícia Militar do Interior e atualmente desenvolvia seu trabalho na ROCAM (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas), patrulhando as ruas da cidade, prevenindo, combatendo o crime, auxiliando e apoiando o cidadão.
O Cabo TOM obteve várias condecorações, dentre elas recebeu as Láureas de Mérito Pessoal em 5º, 4º, 3º e 2º Graus, por suas ações profissionais e condutas meritórias.
“Profissional íntegro e leal à causa pública, o Cabo PM TOM sempre pautou sua conduta em servir com honestidade e amor a sua Pátria e a sociedade paulista, deixará saudades a sua esposa e filhas, aos seus amigos, familiares e aos seus irmãos de farda. Exemplo de honra, respeito e dignidade, deixará uma grande lacuna na Força Pública Paulista”, destacou o 37º BPM/I.
FAMÍLIA
Cabo Tom era casado e completou 15 anos de união em janeiro. Deixou a esposa e duas filhas. “TOM deixou uma linda família, sua esposa Jenifer e duas lindas filhas, Julia de 10 anos e Luiza de 5 anos. Nas vezes que passamos por sua casa era nítida a paixão e apreço das filhas e esposa. Julia corria pegar a bicicleta e ficava passeando a nosso redor. Luiza que vinha correndo queria colo e repetia: “papai…papai…papai…” Educadas e felizes expressavam que acabaram de ver seu herói chegar”, contou o amigo Cabo Doricio.
FATO MARCANTE
Fato marcante na carreira do policial militar ocorreu no dia 19 de dezembro de 2012 quando o policial salvou a vida de um bebê de apenas 13 dias de vida. A criança se engasgou com leite materno e recebeu os primeiros socorros do Cabo Tom, voltando a respirar. Os policiais militares estavam em patrulhamento quando ao passarem pelo bairro Santa Cruz se deparam com populares que pediam ajuda. Os PMs entraram na residência e se depararam com o pequeno Arthur já arroxeado. O bebê foi colocado na viatura e a caminho do hospital recebeu os procedimentos. Na época Cabo Tom que era soldado e estava há dois anos na corporação declarou em matéria publicada pelo G1. “Nossa preocupação era mesmo salvar a criancinha, então é muito gratificante. Como pai fico feliz de ver o bebê respirando e como policial fico feliz de poder cumprir nossa função de origem que é salvar as vidas”, disse um dia após o ocorrido.
Emoção marca a despedida do Cabo Tom
A despedida do Cabo PM Tom foi marcada por muita emoção pelos amigos de farda, familiares e população em geral a quem o profissional tanto serviu ao longo dos seus 10 anos de Polícia Militar.
Na manhã de sexta-feira (26), antes do velório e cremação do corpo, um grande cortejo liderado pelas forças de segurança do município foi feito em reconhecimento ao trabalho e amizade do PM. Equipes da Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Rodoviária, BAEP Guarda Municipal, Corpo de Bombeiros e população prestaram as últimas homenagem ao Cabo Tom, percorreram diversas ruas de Rio Claro, saindo da região central até o Cemitério Parque das Palmeiras, onde ocorreu o velório por quatro horas. “Como profissional o Cabo TOM sempre se adaptava bem no patrulhamento de duas rodas, como chamamos a ROCAM e no de quatro rodas, o patrulhamento Tático. TOM se dava bem com todos. Confesso que eu não possuo essa característica. Sou um pouco chato. Não teria metade das homenagens prestadas ao nosso querido amigo. Por isso sempre que eu podia me espelhava nele. Vinte e sete coroas de flores foram enviadas para homenageá-lo. O cortejo foi perfeito com as honrarias de um herói que foi, em cima do carro de Bombeiros. O toque de corneta entrou em nossos ouvidos, percorreu nossas veias e inundou nossos corpos de emoção”, disse Doricio.
O Cabo Tom foi assassinado no fim da tarde de quarta-feira (24) em trecho da Rua 30 do bairro Jardim Paulista. Ele seguia de motocicleta para casa, após mais um dia de trabalho e não conseguiu chegar, no meio do trajeto foi surpreendido por um criminoso que, antes, rendeu uma mulher, tentou roubar sua caminhonete, na tentativa frustrada, o bandido vai para o meio da rua e aborda o policial que passava no momento, em seguida efetua disparos contra o Cabo Tom que chegou a ser socorrido, mas minutos depois foi a óbito.
Por Janaina Moro / Fotos: Divulgação