Na noite de sábado (14) pacientes e funcionários da UPA do bairro Cervezão passaram por risco enquanto estavam na unidade. O prédio foi alvo de pelo menos cinco disparos de arma de fogo. No local, equipe do Diário do Rio Claro recebeu informações dos guardas municipais que o fato aconteceu após o acusado reclamar do atendimento. Porém, momentos depois do registro os oficiais receberam informações de pessoas do local e constataram se tratar de outra história.
De acordo com Boletim de Ocorrência registrado pela Guarda Municipal, o atirador estaria atrás de sua ex-mulher, que estava sendo ameaçada de morte por ele. O indivíduo teria tentado entrar na UPA para pegar a mulher e foi barrado, foi aí que começou a causar tumulto. Deixou o local, voltou armado e efetuou os disparos que, por sorte, não atingiu ninguém.
No local, já estavam três viaturas da guarda que fizeram acompanhamento do acusado que fugiu. Na fuga, estava com um veículo Honda Civic, na Avenida 80-A, quando atropelou um ciclista, com a intenção que as viaturas parassem, porém uma delas fez o socorro da vítima e outras duas continuaram o acompanhamento. O indivíduo acabou abandonando o veículo, entrando no meio do mato no bairro São Miguel e em seguida teria obrigado um motorista a dar carona para voltar à unidade, onde parentes aguardavam atendimento.
Segundo informações das autoridades, a jovem estaria machucada. Com posse das características, equipe da Rocam em patrulhamento pelo bairro Cervezão se deparou com o veículo Uno, com dois indivíduos, onde ao visualizarem a equipe, se evadiram em alta velocidade, começando um breve acompanhamento, sendo abordados pela Avenida M-17. Realizado busca pessoal e vistoria veicular nada de ilícito foi encontrado, mas o indivíduo acabou sendo reconhecido como autor dos disparos. Segundo Boletim de ocorrência, ele acabou confessando ter dispensado a arma do crime no momento da fuga em uma área de mata próximo ao local onde abandonou seu veículo. Diante dos fatos foi apresentado no plantão policial, onde foi recolhido à carceragem local e em seguida transferido para o Presídio de Piracicaba.
O Boletim de Ocorrência foi registrado por Tentativa de Homicídio/Disparo de Arma de Fogo/Lesão Corporal. Em contato com equipe do Diário a jovem, indicada como ex-mulher do acusado, desmentiu a versão. Disse estar em boa relação com o indivíduo, porém não deu detalhes do que realmente teria acontecido.
SINDICATO
Segundo depoimento de Cesar Camargo, do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sindimuni), que foi quem deu assistência aos funcionários após os acontecimentos, os relatos dos funcionários dizem que “às 18h15 de sábado (14), uma senhora esteve no Pronto Atendimento do Cervezão, queixando-se de pressão alta. Às 18h17, ela foi atendida na Área de Classificação de Risco, constatando-se assim a Hipertensão Arterial (Pressão Alta), em um nível muito alto, 26/13, classificado então como código amarelo, o que indica o atendimento imediato, aliás, o que seria feito”.
E continuando Cesar nos disse que: “seria só o tempo da enfermeira preencher a ficha e levar para o médico. Esse é o trabalho da Classificação de Risco, é fazer a triagem não por ordem de chegada, mas por ordem de classificação de risco. E para essa senhora, havia a necessidade de atendimento urgente, aliás, ela já estava sendo atendida. Eis que o genro dessa senhora, chega cobrando um pronto atendimento, de forma agressiva e violenta, chegando a agredir com empurrões a funcionários do Pronto Atendimento. E depois de certa confusão, o fulano se evadiu do local, voltando posteriormente com uma arma em punho e adentrando o saguão da unidade de saúde. Nesse momento o Guarda Civil Municipal sacou sua arma e fez um disparo para o ar. Foi quando o rapaz saiu da UPA, entrou em seu carro e fez vários disparos contra o prédio da unidade”.
Segundo os relatos, esses foram momentos terríveis para quem estava no local. Uma médica pediatra, no momento de desespero, foi para o necrotério (sala onde ficam pessoas que morrem no local), se escondeu embaixo da pia com uma criança e uma senhora. Pessoas se atiravam ao chão, crianças, jovens e idosos, homens e mulheres, pacientes e funcionários, em desespero geral. “O que, realmente, chateia os servidores da saúde são os comentários no Facebook. São, geralmente, pessoas que não têm o mínimo conhecimento do que acontece nos bastidores do serviço da saúde pública municipal e fazem comentários sem nenhum nexo, sem nenhum conhecimento e sem nenhum pudor”, comenta Camargo.
TRAGÉDIA ANUNCIADA
Para Cesar Camargo, os acontecimentos do último sábado (14) na UPA do Cervezão, mais uma vez escancaram a fragilidade daqueles que trabalham diretamente com o público nas unidades de saúde municipais, estaduais e federais. As condições precárias de funcionamentos das unidades, geram descontentamentos aos usuários e quem paga um preço, às vezes muito alto, é aquele que está à frente dos clientes. “O que me aborrece é a falta de comprometimento com a segurança dos Servidores. A sensação de insegurança e a vulnerabilidade mediante atitudes violentas oriundas de diversos fatores, até mesmo extrínsecos ao serviço, como o último episódio é o que assusta os servidores”, revolta-se Cesar Camargo.
E preocupado com essa sensação de insegurança em que vivem os servidores da saúde, Cesar trabalha uma campanha exigindo uma medida urgente para que os servidores da saúde possam trabalhar dentro de um local, ao menos, seguro. “Temos uma liminar de um juiz para implantação de segurança, porém, a secretaria contratou duas empresas, uma para controlar o fluxo e a outra de vigilância patrimonial, o que não resolveu a situação”, finaliza.
PREFEITURA
A Fundação Municipal de Saúde de Rio Claro, por meio de seu secretário, informou através de nota que está profundamente preocupada com o ocorrido e já no sábado (14), empreendeu todos os esforços junto aos setores policiais no sentido de oferecer segurança aos servidores da unidade e está firmando entendimentos com o Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Rio Claro, com reunião agendada para esta terça-feira, (17), às 14 horas, com o objetivo de exprimir a preocupação do governo e da gestão da Fundação Municipal de Saúde de Rio Claro com o que a administração pública tem de mais precioso: o seu servidor.
É importante ressaltar que o ocorrido no sábado foi pontual e extraordinário, o que não afasta a preocupação de toda a gestão com a segurança dos servidores que trabalham em suas unidades de Saúde. Vale informar ainda que esta gestão desde o ano passado investiu no controle de acesso das portarias das unidades de urgência e emergência, com a presença de porteiros e seguranças 24 horas, informou a administração.