Rodrigo Pezzonia, de família rio-clarense, nasceu em Campinas no ano de 1978. Com poucos meses de vida, mudou-se para Rio Claro. Formado em história, mestre em sociologia, doutor em história social e finalizando seu pós-doutorado em sociologia (sendo graduação na Unesp, mestrado na Unicamp, doutorado na USP e pós-doutorado na Unicamp, além de ter feito parte do doutorado no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa), Pezzonia, recentemente, lançou o livro “Guarda um Cravo para Mim: os exilados brasileiros em Portugal”, que é resultado da pesquisa para sua tese de doutorado defendida no Programa de História Social da Universidade de São Paulo (USP), no ano de 2017.
Antes de esmiuçar acerca do livro, o Centenário contará um pouco da trajetória deste campineiro com raízes rio-clarenses. “Rio Claro, para mim, foi tempo de formação de minha personalidade. É a cidade em que ainda vive parte do meu núcleo familiar, cidade onde criei minhas primeiras e mais duradouras amizades (mesmo que muitos hoje não vivam mais aí) e onde conheci minha companheira (que reencontrei anos depois de deixar a cidade).
Só posso dizer que esta matéria me deixou saudoso de comer um hambúrguer em um dos tantos carrinhos espalhados pelas ruas da cidade para depois passar uma noite agradável com os amigos no Sujinho’s bar, assim como tantas e tantas vezes fiz no passado”, rememora. Pezzonia admite que só foi bom aluno até a quarta série primária (hoje, o 5º ano do ensino fundamental). “Sempre tive problemas em fazer tarefas as quais era obrigado. Só fui aprender a gostar de ler, por exemplo, quando, aos 13 anos, decidi que iria parar de estudar para trabalhar. Isto é, não era mais uma obrigação.
Parei de estudar e só voltei para os bancos escolares aos 18 anos para cursar um supletivo da cidade”, recorda-se. De acordo com ele, o retorno aos estudos se deve à sua mãe, Eliza Pezzonia que, por quase 40 anos, foi proprietária do Bazar Alvorada, e foi quem consertou um incontável número de panelas para que, aos 21 anos, Pezzonia se mudasse para Assis a fim de cursar História na Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Quando terminei a graduação, mudei-me para a Capital para trabalhar, sendo que, poucos anos depois, voltei para Campinas com o objetivo de realizar o mestrado em Sociologia na Unicamp. Defendi, em 2011, a dissertação na qual me dediquei a saber mais sobre um grupo de exilados brasileiros na França”, expõe.
Sua obra
Neste trabalho, assim como no mestrado, Pezzonia dedicou-se a tratar de um assunto ainda não muito estudado no Brasil, que é o tema do exílio político. E, conforme ele, neste caso particular, o exílio daqueles que se sentiram obrigados a sair ou foram banidos do Brasil a partir da ditadura brasileira (1964-1985), e encontraram em Portugal, terra de refúgio após a Revolução dos Cravos (1974). “Revolução dos Cravos, esta que festejada enquanto tema da canção de Chico Buarque, ‘Tanto Mar’, possui o trecho que dá título ao livro: ‘Sei que estás em festa, pá/ fico contente/ e enquanto estou ausente/ guarda um cravo para mim’”, explica.
Pesquisa
O autor relata que se deu a partir de um conjunto de fontes acessadas tanto no Brasil, quanto em Portugal, e consiste em entrevistas realizadas por ele e por outros pesquisadores, material produzido por opositores da ditadura no exterior, assim como, e sobretudo, documentação oriunda dos próprios governos brasileiro e português, com ênfase em papéis do Ministério dos Negócios Estrangeiros, de Portugal; Ministério das Relações Exteriores brasileiro; e de um órgão muito pouco conhecido, criado junto ao Serviço Nacional de Informação (SNI) e ao Itamaraty, chamado CIEX (Centro de Informação do Exterior). “Este órgão tinha por objetivo o monitoramento e espionagem de opositores à ditadura que se encontravam no exterior”, destaca.
Pezzonia afirma que, neste livro, se dedica não somente às vivências e relacionamentos de solidariedade entre portugueses e brasileiros, como também sobre as relações diplomáticas entre os dois governos quando, em um momento de evidente disparidade ideológica, se respeitavam e percebiam a necessidade da manutenção de suas relações diplomáticas. “O que contraria, e muito, a maneira de entendimento atual da política externa brasileira”, pondera e acrescenta que, além disso, sua obra também se dedica a compreender um pouco do que foi a influência do exílio no processo de reestruturação partidária brasileira após a Lei de Anistia e do retorno dos exilados.
Ele explica: “Em Portugal, os brasileiros tiveram acesso ao florescimento da social democracia europeia que já começava a vigorar em países como Alemanha, França e, com o fim da ditadura franquista, Espanha. Sendo que, desta experiência, trouxeram o modelo para a criação de algumas siglas partidárias que ainda hoje fazem parte do universo político nacional.” O autor diz que foi em Portugal, por exemplo, que Leonel Brizola se dedicou a retomar o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), mas que, após disputa judicial com a sobrinha de Vargas, perdeu o direito de uso da sigla, formando adiante o Partido Democrático Trabalhista (PDT).
Pezzonia destaca que foi em Portugal também que jovens militantes da esquerda saíram para ajudar a fundar siglas para além do próprio PDT, como o Partido Verde (PV), de Alfredo Sirkis e Carlos Minc, assim como o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que teve entre seus primeiros militantes Mauricio Paiva e Moema São Thiago.
Conforme ele, com exceção de Minc, todos entrevistados no livro. Rodrigo Pezzonia destaca, por fim, que, entre os portugueses entrevistados, teve a honra de conversar com Frei Bento Domingues, um dos maiores teólogos de Portugal e um militante da causa dos direitos humanos; o dramaturgo Helder Costa, que trabalhou com Augusto Boal quando de sua passagem pelo exílio em Portugal; Manuel Pedroso Marques, que esteve exilado no Brasil quando da ditadura salazarista e que foi de grande importância para os movimentos de solidariedade de portugueses para com os brasileiros quando de seu retorno para Portugal, após a Revolução dos Cravos.
Onde encontrar?
O livro “Guarda um Cravo para Mim: os exilados brasileiros em Portugal (1974-1982)”, pode ser encontrado nos sites da Alameda Casa Editorial, Livraria da Travessa e Amazon.