Das matemáticas de que me ocupo nesse meu ofício da Física, o tempo, junto com o espaço, é uma espécie de pano de fundo para todos os fenômenos.
O palco da natureza é o espaço-tempo. Um não está separado do outro. No Big Bang, a teoria que cada vez mais ganha comprovações pelas observações, espaço e tempo passaram a existir.
E explicar a real natureza do tempo ainda é um dos grandes desafios da Ciência. Seria ele contínuo? Ou divisível infinitas vezes? Por que a seta do tempo sempre “corre” para o futuro? Veja que as grandes questões da Ciência são aquelas que uma criança faz.
Lembro eu, numa ligação de Roma, cinco horas à frente do Brasil no fuso horário, para Cecília, minha filha então com sete anos. Quando disse que eram cinco da tarde lá, ela depois de olhar no relógio aqui no Brasil e ver que ainda eram meio-dia, não teve dúvidas: “mãe, mãe, o papai está no futuro!”, disparou para minha surpresa.
A teoria da relatividade, descoberta por Einstein em 1905, estabelece que nada pode se mover no universo a uma velocidade superior à da luz. E diante dessa constatação, comprovada à exaustão experimentalmente, é fácil entender os resultados espantosos que dela derivam. Se velocidade é espaço percorrido por unidade de tempo, para que a velocidade da luz se mantenha constante, então é preciso que o espaço se contraia ou o tempo seja dilatado.
Por isso, a partir dessa descoberta toda, uma nova Física nasceu, complementando mais de 400 anos da mecânica de Isaac Newton. Esta, na verdade, funciona, e muito bem, para velocidades baixas em relação à velocidade da luz.
Das poesias, que falam mais ao coração que a frieza dos números, tempo é aquele que “põe cabelos brancos nas cabeças e umidade nas paredes”, nas palavras de Fernando Pessoa.
Compositor de destinos, senhor de todos os ritmos, nos diz Caetano na linda canção “Oração ao Tempo”.
Vivemos brigando com o tempo, sempre apressados, “na correria” e, ao fim, temos a sensação de que ele está passando muito rápido. Só que não, nós é que estamos acelerados, sempre pensando no que vamos fazer mais tarde, amanhã, no fim de semana, nas férias. Vivendo com a cabeça sempre no futuro que ainda não existe, nos concentramos pouco no presente.
“Quando se vê, já é Natal. Quando se vê, já terminou o ano. Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê, passaram 50 anos!”. Tinha razão, querido Mario Quintana.
É, quando se vê, tudo pode se acabar. E o tempo, esse mistério que nos ronda, que nos assombra e nos envolve, no fim das contas vence uma luta já vencida no útero de nossas mães.
Talvez a única arma contra a passagem do tempo seja o amor. Amor que buscamos, que vivemos, que deixamos. Sem medida, sem espaço-tempo que lhe faça caber.
Por Marcelo Lapola