“Fecho os meus olhos por um momento, e o momento já se foi”. Essa frase, que inicia a bela música “Dust in the Wind” da banda Kansas, traz em suas palavras a trasitoriedade de tudo. Somos prisioneiros do tempo que avança só num sentido. Ao que tudo indica, ele não volta. Estamos imersos na passagem do tempo, como peixes na água. E um dos maiores mistérios na física é descobrir a natureza mais profunda do tempo. Como assim, o tempo só flui em um sentido?
Foi o astrônomo britânico Arthur Eddington (1882-1944) quem deu nome a esse fenômeno: a seta do tempo ou, tecnicamente, a “seta termodinâmica do tempo”, ligada a uma das mais poderosas leis da natureza, a segunda lei da termodinâmica. Essa lei mostra o grau de irreversibilidade das coisas, também chamada de entropia. A seta do tempo está intimamente ligada à entropia, que na natureza só aumenta, por isso, nesses casos só permite avanço numa direção: rumo ao futuro.
Por exemplo, uma xícara de chá que cai no chão, não volta intacta para cima da mesa (os cacos estarão sempre mais desorganizados que a xícara inteira). Ou o perfurme que escapou do frasco em forma de gás não volta para o frasco. É irreversível! Há sempre um caminho excluisvo em direção ao aumento da “desordem” no Universo.
Talvez o maior mistério seja o tempo. “O tempo é isso, familiar e íntimo. Sua força nos arrasta”, diz o físico italiano Carlo Rovelli. em seu excelente livro “A Ordem do Tempo”. Rovelli tem como campo de pesquisa a Gravidade Quântica em Loop, modelo que descreve a gravidade em níveis subatômicos e permite descrever o tempo quanticamente, e também sua ausência.
O tempo que está intimamente conectado ao espaço, segundo a comprovada Teoria de Relatividade, tempo que se dilata, se contrai, de fato em algum momento deixa de existir? O que existia antes do Big Bang, a explosão que deu origem ao Universo? Sempre respondo a amigos que não é a Física que consegue responder a essa pergunta, porque antes do Big Bang, não havia tempo, nem o espaço. Portanto não havia Física, para que possamos descrever com leis matemáticas. Mas no instante posterior já é possível, porque o tempo (e o espaço) passam a existir fisicamente.
O desafio de explicar e descrever o tempo, que povoa as mentes mais geniais do mundo, mostra que a realidade quase sempre não costuma ser o que parece. O Sol parece se mover no céu, mas nossa Terra é que gira. A Terra parece plana, mas é esférica. Do mesmo modo a natureza do tempo é muito diferente do que parece. Quem se aventura? Antes que o seu tempo acabe. Se é que acaba. Aliás, o que significa dizer que o tempo “passa”? Já que “tudo o que nós somos é poeira ao vento”?