Como eu gostaria de ter novamente alguma inspiração para escrever aqui sobre arte, música, sobre a física quântica, a relatividade geral, com que trabalho e tanto nos fascina.
Como seria bom se eu tivesse o mesmo ímpeto de quando comecei a escrever e trabalhar com o jornalismo, e conseguia escrever sobre o mais novo livro maravilhoso que estava lendo, sobre o piano que tento aprender a tocar, ou mesmo sobre minha filha com sua mais nova invenção.
Mas um tema se impõe sobre todos esses, e definitivamente não há clima.
Disfarçar o olhar diante de tantas perdas e sofrimentos impostos pela pandemia soa desonesto nesse momento. Ao menos para a minha consciência, sempre acostumada a me culpabilizar e sensível aos acontecimentos. Tenho fé em Deus, essa inspiração ainda há de voltar. Quando eu não sei.
Mas hoje, os dias parecem não ter fim. Durante vários meses, confinados em casa, ou precisando sair para trabalhar, sempre esperamos pelo pior dos dias, em que a pandemia atingiria seu pico. Como se fosse uma tempestade tropical com sua intensidade devastadora, alagando ruas, destelhando prédios e construções, mas de forma passageira. Lamentamos as perdas de um temporal, mas sabemos que ele passa. E isso nos mantém em pé.
No ano passado, sempre que um mês estava para terminar a gente ouvia falarem: “Esse próximo mês será o pico da pandemia!”. O mês passava e outro chegava, e um pico superava o anterior, numa sucessão de tragédias anunciadas.
E hoje vivemos o pior momento, com picos de internações, de mortes, de casos de Covid e o pico de miséria, com mais de 19 milhões de pessoas no País passando fome, ou na triste zona de insegurança alimentar, muitas dessas mulheres com seus filhos.
Como seria bom se todos esses problemas se resolvessem com a abertura total do comércio, como defendem alguns comerciantes, muitos também à beira do colapso econômico. É difícil saber se as portas abertas de seu estabelecimento comercial será garantia de aumento de vendas.
Estamos no meio de um temporal que não passa, porque a solução, isto é, a vacina, está vindo a conta gotas.
Além da miséria, da fome, da doença, vamos sendo marcados pela devastação da nossa alma, ao ver tantas pessoas perdendo suas vidas, algumas próximas da gente, outras distantes.
E agora, no que parece ser o pico dos picos da Covid no Brasil, por enquanto, em meio a essa tempestade eterna, é nossa alma que vai se devastando. Que a compaixão possa nos salvar, como seres humanos.