Nota sobre Cinema n° 1
O cinema teve início no final do século XIX, na França, quando os irmãos Louis e Auguste Lumière realizaram a primeira exibição do filme L’Arrivée d’un Train à La Ciotat (A chegada do trem na estação). A película tem apenas cinquenta segundos de duração, porém é a grande responsável e o ponto de partida para tudo que viria depois em matéria de cinema. Depois dessa curta exibição muita coisa vem sendo produzida no cinema, coisas boas e coisas ruins. A produção atual, por exemplo, é muito vasta e ótimos longas-metragens são realizados, mas, infelizmente, os jovens são sempre atraídos por aquilo que não tem qualidade. Tenho tentado transmitir para alguns alunos que o contato com os mais diversos tipos de filmes é muito bom, no entanto, é preciso estar atento para não cair na armadilha do consumo.
Os filmes que se tornaram eternos – como Viagem à lua, O Nascimento de uma nação, O encouraçado Potekim, Tempos modernos, O mágico de Oz, E o vento levou, Cidadão Kane, Casablanca, Cantando na chuva, Um corpo que cai, Quanto mais quente melhor, Janela indiscreta, A doce vida, Psicose, A aventura, O poderoso chefão, Taxi driver, Laranja mecânica, para citar somente alguns de memória – são clássicos porque carregam em seus roteiros e em suas imagens muito mais que somente entretenimento, algo que serve para formar cidadãos e, creio, encaminhar para a vida.
Está mais do que provado que todos os filmes acima transmitem valores de toda a ordem e, sem dúvida, foram, são e serão essenciais para o ser humano como forma de suprir o eterno abismo existencial entre o pensar e o agir. Assisti a esses filmes, que chegaram ao meu conhecimento através de recomendações ou de listas em revistas especializadas, quando já estava quase na fase adulta alcançando a maioridade. Lembro que os vi com a curiosidade cinematográfica de uma criança diante do mundo lá fora, gigante, distante e desconhecido. Por isso, posso garantir que há parte de todos os personagens ali existentes, suas histórias e suas falas em minha formação intelectual.
Mas deixando os grandes clássicos de lado, devo confessar, porém, que nada foi mais significativo e marcante do que os filmes que vi quando ainda adolescente e que chegavam até mim pela locadora da Sandra ou porque eram exibidos pelas redes de tevê aberta. Percebo, olhando pelo retrovisor da vida – que deixa tudo distante, porém bem mais nítido – que aquelas produções auxiliaram a cultivar o que viria a ser meu caráter, bem como ajudaram a perceber com algum discernimento o que é e o que não é adequado para viver uma boa vida. Clube dos cinco, Conta comigo, Te pego lá fora e Curtindo a vida adoidado são alguns bons exemplos de filmes aparentemente sem muita pretensão, mas que deixaram valores impressos em quem os assistiu. Valores como companheirismo, amizade, respeito e até rebeldia. Sim, porque um pouco de rebeldia nunca fez mal a ninguém.
Entretanto, os filmes que vejo atualmente (percebam, há muitas exceções, contudo os que os jovens mais estão expostos – até porque são ostensivamente sequenciados – não acrescentam nada a não ser o desejo de consumo, seja material, sexual, ou de qualquer outra ordem) demonstram um desinteresse com os valores que poderiam colaborar para a formação do público jovem. A franquia Velozes e Furiosos, para citar somente um exemplo, não transmite nenhum valor a não ser o do dinheiro, com o qual se pode comprar carros caros e superpotentes e (hipoteticamente) mulheres fáceis e sensuais.
Como entretenimento para pessoas já desenvolvidas o filme é uma opção medíocre de entretenimento. Para adolescentes em formação, repito, não acrescenta absolutamente nada!