Admirável Mundo Novo?
Primeiro foram as livrarias que, aos poucos, rarearam da paisagem cotidiana, pois, infelizmente, os livros – aquele objeto transportável composto por páginas encadernadas com textos impressos que, juntos, formam um volume Graças à Santa Revolução da Imprensa criada e promovida por Johannes Gutenberg – deixaram de ser “devotados como que os maços de cigarros” e, para a triste constatação, estão cada vez mais raros nas mãos e – o que é pior! – nas mentes dos brasileiros.
Aos poucos, o hábito da leitura foi substituído pelo hábito de não ter hábito nenhum e o que salta aos olhos nestes dias maquinais são apenas duas características: o vazio existencial e a insistência na razão a qualquer preço, ainda que embasada em nada!
Em seguida, o Long Play – popularmente conhecido como Disco de Vinil – foi substituído pelo Compact Disc e aqueles espaços imensos com bancas intermináveis que separavam os élepês por ordem alfabética perderam espaço para os cedês que, por sua vez, ficaram por algum tempo enfileirados no mesmo esquema que os vinis, porém proporcionando menor contato com a arte da capa e um déficit bastante questionável no que diz respeito à sonoridade.
Não demorou e foram ficando raras também as lojas dos disquinhos e o arquivo MP3 tomou conta do mercado, sobretudo o pirata e, atualmente, qualquer zé mané, qualquer Caetano, ostenta a coleção completa dos Beatles e ou dos Rolling Stones no HD para nunca, jamais, em tempo algum, ouvir! E não parou por aí! A pequenez seguiu adiante e vieram as músicas On Demand abolindo de vez o conceito de uma obra musical!
Paralelo a essa novidade tecnológica que destruiu com a música no que diz respeito a produção e, principalmente, a concepção, as transformações também acometeram o Audiovisual e, não obstante ficarem obsoletas as fitas de VHS, sumiram do mapa uma a uma as videolocadoras excluindo o prazer semanal de ir até aqueles templos em que Francis Ford Coppola e Martin Scorsese disputavam espaço com Woody Allen e Steven Spielberg e que carregavam algo entre sagrado e profano a cada escolha.
HOJE, o que restou no fundo do armário são aquelas fitas com imagens de antigos aniversários, formaturas, e casamentos que, por algum motivo sentimental são acumulados como que as velhas fotografias. Depois dos veagaésses, vieram os devedês que representavam um futuro inimaginável até para o Marty McFly, porém também tiveram vida curta e, logo, foram substituídos pelo On Demand.
Como já filosofava Dom Maia: “Tudo é tudo e nada é nada!” Na mudança do Mundo Analógico para o Mundo Digital muito foi perdido e não apenas nas questões político-filosóficas, mas também nas relações sociais. Como que em cápsulas, cada indivíduo da sociedade contemporânea tem as suas preferências e verdades absolutas, justamente por viver a Era das Certezas.
Lembra quando não importava o que cada um pensava da política ou qualquer outro assunto porque a amizade e a troca de conhecimento prevalecia a qualquer escolha individual? Lembra quando nos corredores das locadoras alguém indicou um filme que ficou sendo o seu predileto? Lembra quando era preciso encomendar com o dono da loja de discos o novo lançamento de determinado artista, que havia sido anunciado na revista semanal?
O coordenador do curso em que ministro aulas na Ufscar costuma dizer que o Tempo da Justiça é diferente do Tempo da Opinião Pública e, justamente porque os fatos precisam ser apurados com vagar, as punições parecem lentas. Puxando como gancho a sua alegoria penal sempre digo aos meus alunos que o Tempo da Internet não é o Tempo do Homem e, justamente, porque o Homem deixa de digerir os estímulos recebidos diariamente, que o tempo parece passar mais rápido.
A falsa impressão de poder tudo a qualquer hora traz junto a sensação de estresse e de ansiedade que, creio, está diretamente ligada a quantidade de informações a que temos contato através dos telefones celulares e dos computadores. É preciso desacelerar, pois devagar também é pressa! Rogo a Deus para que todos possam ter horas agradáveis com leitura compassada, audição de discos completos e sessão pipoca com bons filmes. Mais introspecção e conteúdo em detrimento a pavonisses e bobagens disseminadas na Internet! Até domingo que vem!