As histórias de Midiel
Na semana passada, minha crônica nasceu a partir de um recorte de jornal que encontrei do ex-colunista do Diário do Rio Claro, Midiel Christofoletti, e, enquanto a escrevia, lembrei que a Trupe de O Beta tentou entrevistar esse Cronista de Marca Maior para o mensário, creio que em meados de 2008, entretanto, por algum motivo acabou por não dar certo o nosso encontro.
Verdade é que logo que encontrei os seus textos em uma das caixas arquivo que acumulo para o desgosto de minha esposa, entrei em contato com José Geraldo da Costa Júnior, com o intuito de obter notícias de Midiel, uma vez que eram vizinhos ali pelos lados da Santa Cruz. Para minha triste surpresa, fiquei sabendo do seu passamento através de meu amigo e também profissional da escrita que, vale lembrar, escreve coisas lindas às sextas-feiras na página 2 do Centenário.
Antenado a produção literária contemporânea e um assíduo leitor de tudo que vale a pena nos periódicos municipais bem como nos jornalões do País, Jota Costa ainda informou que um livro com uma reunião dos escritos de Midiel havia sido lançado recentemente e que era simplesmente uma maravilha.
A curiosidade em conhecer a obra reinou em meu pensamento naquele fim de noite e nas primeiras horas do dia seguinte até que, próximo do meio dia, recebi a visita de Jota aqui na sede do Arquivo Histórico da Família Rio-Clarense com um embrulho dourado nas mãos que revestia nada menos que um volume de ‘Memórias de Midiel – Histórias e Casos de Rio Claro e sua Gente’ que, aliás, devorei naquele fim de semana!
Com Direção de Conteúdo de Fátima Christofoletti dos Santos, Pesquisa de Flávia Christofoletti dos Santos e Revisão de Conteúdo de Marina Christofoletti dos Santos, o saboroso compilado foi concentrado em 311 páginas no ano de 2017 pela Editora Arte & Letra com belíssimo Projeto Gráfico da domdeCRESCER e revisão da querida Sandra Baldessin.
Uma particularidade que salta aos olhos em todo o conteúdo é a paixão do autor pela Cidade Azul, além de o compilado parecer ter sido composto de uma forma que, propositalmente, leva os leitores a um tempo-memória cuja cronologia oscila da fundação do município e a criação de entidades centenárias, passando por lembranças imagéticas de tradicionais instituições de ensino e culturais, até o histórico de alguns bairros rio-clarenses.
Em ‘O Diferente Carnaval do Treze’, por exemplo, Midiel discorre sobre a Festa Popular do Momo que, naquele longínquo 1913 e conforme depoimento obtido com Aloysio Pereira, foi peculiar. Com sua pena delicada, narra o episódio ocorrido na Avenida Central onde o corso desfilava sobre o chão de barro batido.
Havia um mendigo chamado Zebé “que vivia no Jardim Público sempre carregando às costas um saco cheio de trapos e coisas velhas, roupa ensebada e a camisa em farrapos”. Na ocasião, os foliões colocaram Zebé em cima de um caixote de um dos carros trajando um manto vermelho e uma coroa de papelão com a inscrição ‘Zebé – Rei da Porcaria’.
O fato fez com que alguns munícipes rissem e outros condenassem a atitude carnavalesca, porém o episódio foi passado adiante durante muito tempo e o Carnaval do Treze entrou para a História devido ao Rei Zebé, que ninguém sabe que fim levou e que mais de um século depois reaparece vivo aqui nestas linhas da Tempestade de Amianto.
Outro causo interessantíssimo está em ‘Quinze horas de um dia em 1936’, no qual descreve o quiproquó quando o dono da venda da Rua 9 esquina com Avenida 16, Sílvio Schlittler, esparramou a notícia que às 15 horas daquele dia o retratista tiraria uma fotografia de todos que estivessem defronte ao seu estabelecimento.
No horário marcado, pelo menos duas dúzias de pessoas compareceram para o registro que pode ser conferido na página 244, inclusive, Neide – a Rainha da Cidade Azul de 1950, alçada ao posto após de concorrida eleição cujos votos foram apurados na Redação do Diário do Rio Claro, na Rua 5 entre as avenidas 1 e 3 – ao lado de sua irmã Norma e de seu pai Henrique que, por sua vez, era tio de Midiel.
Enfim, todo o exemplar que já ocupa lugar especial em minha biblioteca, traz outros importantes dados e curiosidades que transportam a uma Rio Claro que, infelizmente, não existe mais! Uma delícia de ler! Obrigado Midiel. Obrigado Jota Costa. Até domingo que vem!