Catedrais
Organizando em meus guardados antigos recortes de jornais, os quais acumulo pelo simples prazer da leitura, encontrei várias crônicas de autoria de Midiel Cristofoletti, colunista de Marca Maior que por um longo período escreveu para o Diário do Rio Claro. Entre todos, chamou a minha atenção um em que abordou os 121 anos do Centenário, publicado na edição dos dias 2 e 3 de setembro de 2007, intitulado ‘A Odisseia de um Sonhador’.
Nele, com um texto refinado, uma de suas peculiaridades, e um tom memorialista o autor narra a trajetória da Família de David José Teixeira que, vinda de Campinas para a ainda São João Batista do Rio Claro, teve papel preponderante na criação do Arquivo Histórico da Família Rio-Clarense.
O pequeno José David, que recebeu o nome do pai invertido, era bastante inteligente e vivia com livros e lápis na mão, conforme destacou Christofoletti, e, diferente de seu irmão Azael David, não quis seguir o ramo do progenitor, o barbeiro David José, e, logo, começou a trabalhar nos informativos ‘O Tipógrafo’ e ‘O Tempo’, empregos nos quais juntou com muito suor algum dinheiro para, em março de 1886, com 25 anos, comprar ‘O Tempo’, que no dia 1º de setembro daquele mesmo ano passou a circular com o nome ‘Diário do Rio Claro’.
Foram 84 anos até que o periódico trocasse de mãos da Família de Jodate para a Família de Zanello que, por sua vez, há 39 anos segue com o intuito de bem informar os munícipes da Cidade Azul e que, nas palavras de Midiel, “pode, sem dúvida nenhuma, olhar para trás e, orgulhosamente, respirar aliviado e dizer: ‘Major, a tarefa continua sendo cumprida…’”
Encontrar e ler novamente o texto de Midiel Christofoletti discorrendo sobre José David Teixeira e Geraldo Leonardo Zanelo, trouxe a lembrança de outro Grande Editor, o americano Adolph Ochs, patriarca da Família Ochs que dirige o The New York Times há 123 anos e cuja biografia pude conhecer um pouco mais no livro ‘O Reino e o Poder – Uma História do New York Times’, do jornalista e Mestre Maior Gay Talese.
Fundado em 18 de setembro de 1851 por Henry Jarvis Raymond e George Jones, ao completar 45 anos, o jornal começou a passar por dificuldades financeiras até que Ochs, que contabilizava à época 38 primaveras, assumiu o controle fazendo dele uma potência que permanece sob o comando de seus herdeiros e com o mesmo lema: “Todas as notícias que estão aptas para a impressão.”
Há um burburinho tacanho sendo espalhado desde 1995, data em que a Internet começou a ser popularizada em todo o Globo, de que os impressos estão com os dias contados. Não creio! E digo isso não apenas porque atuo no campo e tenho plena convicção de que fora dele, em qualquer outra plataforma, não seria sincero comigo mesmo e deixaria a desejar, mas sim, devido ao apego que temos, os leitores ávidos, pela matéria papel.
Claro que a mudança está ocorrendo e as grandes organizações têm tentado adaptar o conteúdo às diversas mídias, porém, tenho convicção de que somente farão parte da vida cotidiana das pequenas comunidades, os jornais que prezarem por seguir duas características primordiais: o aprofundamento nos fatos, ou seja, que trouxerem escritos longos que levem o leitor à reflexão; e, o mais importante, que tenham em seu quadro profissionais que gostem de contar histórias e que sigam à risca o contrário das técnicas jornalísticas promovidas por Pompeu de Sousa na Década de 1960, as quais, aliás, Nelson Rodrigues sabiamente chamou de fábrica de idiotas da objetividade.
Jornalismo tem de ser sempre mais que simplesmente o lide! Iphigene Ochs, filha de Adolph Ochs, quando assumiu a direção do diário mais importante do Mundo explicou a sua grandeza contando a seguinte história: um viajante encontrou três cortadores de pedra ao longo do caminho e perguntou a cada um o que fazia. O primeiro respondeu: “Estou cortando pedra”. O segundo disse: “Estou fazendo uma pedra angular”.
Contudo, quando a pergunta foi feita ao terceiro, respondeu: “Estou construindo uma Catedral”. A força do NYT, dizia a Grande Dama do Times, como era conhecida Iphigene, deriva de uma tradição: seus funcionários são construtores de catedrais, não cortadores de pedra. Acredito que assim os impressos sobreviverão, mantendo em suas redações uma plêiade de construtores de Catedrais! Até domingo que vem!