Caga-regras e formigas existem em todo o lugar, não é mesmo?
Com o gesto típico de quem acha que as mazelas do Mundo podem ser resolvidas com a soltura de pombas brancas no ar e atos de protesto em shows megalômanos, Roger Waters, mais uma. vez perdeu a oportunidade de ficar quieto! Na última terça-feira (9), o ex-baixista do Pink Floyd realizou a primeira apresentação no Brasil da turnê solo ‘Us + Them’, no Allianz Parque, em São Paulo, e, na ocasião, não bastasse tocar mais de 80% do repertório de sua antiga banda em uma espécie de cover oficial para os 45,5 mil presentes, resolveu fazer proselitismo de esquerda.
Colocar o nome de um candidato a Presidente no telão abaixo do dizer “No fascism is on the rise” e salpicar a “#EleNão” durante o espetáculo foi a prova cabal de que o músico deixou a arte de lado e está contaminado pela má informação! Acho até que foi pouco a multidão ter vaiado sua atitude, pois o certo seria ter abandonado o estádio e o deixado sozinho fazendo do palco palanque para as suas frustrações. Importante destacar como uma pequena parte de artistas, tanto brasileiros, quanto estrangeiros, está moralmente falida, pois a candidatura de um Militar causa furor e a do comandado por um presidiário, não!
No show, Waters disse: “vocês têm uma eleição importante em três semanas. Vão ter que decidir quem querem como próximo Presidente. Sei que não é da minha conta, mas sou contra o ressurgimento do fascismo em todo o mundo. (…) Eu preferiria não viver sob as regras de alguém que acredita que a Ditadura Militar é uma coisa boa”. Vamos lá! Verdade, caro Waters, não é da sua conta as escolhas do brasileiro, contudo, preciso ressaltar um ponto que você deve saber, mas prefere fazer claque para a Intelligentsia Sinestrônana: um Militar eleito pelas vias democráticas não tem nada a ver com um Militar que toma o poder e implanta uma Ditadura, são coisas completamente diferentes!
Há pouco mais de dois anos, outro episódio envolvendo Waters chamou a atenção quando, na ocasião, enviou carta a Caetano Veloso pedindo que cancelasse um show marcado para acontecer em Tel Aviv, Israel. Em resposta ao inglês, o Pai da Tropicália respondeu: “cancelaria alegremente caso estivesse seguro de que essa é a coisa certa a fazer. Devo pensar por mim mesmo, cometer meus próprios erros. Agradeço pela atenção e o esforço dedicados a esclarecer sobre a política naquela região. Sempre falarei a verdade de meus pensamentos e sentimentos, e se eu fosse cancelar esse show apenas para agradar pessoas que admiro, eu não seria livre para tomar minhas próprias decisões”.
Enfim, vou continuar gostando e ouvindo as músicas do Pink Floyd, de Syd Barrett, de Richard Wright, de Nick Mason, de David Gilmour e, até mesmo, de Roger Waters. Da mesma forma como continuo amando o trabalho musical de Chico Buarque – desde o ‘Chico Buarque de Hollanda’, de 1966, ao ‘Caravanas’, de 2017. Sim, porque acredito que a arte transcende qualquer fala estúpida de engajamento tacanha. Quando a arte cala e a fala sobressai, é o fim! Parafraseando Caê, agradeço pela atenção e o esforço dedicados a esclarecer sobre a política no meu País, Roger, porém, caso tomasse como sério o seu blá blá blá apenas porque o admiro, não seria livre para tomar minhas próprias decisões! Até domingo que vem!
O autor é Mestre em Divulgação Científica e Cultural pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp e crê na máxima do Paulo Francis que diz que “quem não lê não pensa e quem não pensa será sempre um servo”.