Meu querido tio Gilmar morreu há três anos convicto de que Fernando Collor foi o melhor Presidente do Brasil depois do término do Regime Militar.
Homem de brio e cumpridor dos compromissos, tinha algo entre Liberal e Conservador, ainda que não conscientemente, pois nunca gostou da intervenção do Estado em sua vida e em seu pequeno empreendimento, uma recuperadora de autos; bem como não deixava de fazer o Sinal da Cruz sempre que passava em frente ao Oratório São Luiz, em Araras, ou qualquer outra instituição Católica.
Quando conversávamos, e foram muitas vezes que fizemos isso ao longo da vida, dizia que Collor cometeu dois grandes erros: o primeiro, estar mal assessorado; e, o segundo, acreditar que venceria a esquerda que, já àquela época, dominava a maior parte dos meios culturais e de comunicação do Brasil.
Lembrei desse fato e de sua voz aconselhando para que deixasse de acreditar nas balelas de Lula – isso quando, ainda adolescente e sem a bagagem de conhecimento que, Graças à Deus!, adquiri com outras fontes que não a do status quo disseminado na Imprensa, na Universidade e nas Rodas-Vivas regadas a cervejas artesanais e cigarrilhas de palha – agora que termino de ler o livro ‘Collor Presidente’, do Professor Marco Antonio Villa.
Dividido em dez capítulos [A Ascensão; O Poder; A Glória; A Soberba; A Dúvida; A Calmaria; A Vingança; A Decadência; A Queda; e O Fim], a obra traça um panorama sem amarras ideológicas do que foram os 30 meses de turbulências, reformas, intrigas e corrupção do Governo Collor.
Aproveitando a deixa para fechar a minha Quase-Análise em Três Partes dos Discursos de Posse dos Chefes do Executivo desde que o País está sob a égide da Nova República, trago aqui o que disse o ‘Caçador de Marajás’ acerca da corrupção quando de sua posse naquele dia 15 de março de 1990. “Nada repugna mais ao espírito de cidadania que a corrupção, a prevaricação e o empreguismo.
Bem sabem Vossas Excelências que fiz da luta pela moralidade do serviço público um dos estandartes de minha campanha”, entoou em alto e bom som completando: “A privatização deve ser completada por menor regramento da atividade econômica. Isto incentiva a economia de mercado, gera receita e alivia o déficit governamental, sustentando melhor a luta antiinflacionária. Isto faz com que a corrupção ceda lugar à competição”. Ora… ora… Era ou não era quase um liberal? (!)
Claro que olhando com certo distanciamento de tempo e um pouco mais de profundidade é possível observar que tanto o controle de preços, quanto o confisco das poupanças tiveram um teor altamente intervencionista digno de governos socialistas, aliás, conforme consta da obra de Villa, com exceção da Ministra Zélia Cardoso de Mello, o grupo de economistas criador do Plano Collor era identificado com ideias à esquerda do espectro político e o então Presidente tinha pleno conhecimento desse fato!
O esquema de corrupção envolvendo o ex-tesoureiro da campanha Paulo Cesar Farias – encontrado morto a 23 de junho de 1996 junto de sua namorada Suzana Marcolino –, os protestos organizados pela Intelligentsia Sinestrômana, a pouca solidez do governo e a desarticulação política culminaram na abertura do Processo de Impeachment e, posteriormente, à sua renúncia no dia 29 de dezembro de 1992.
Por fim, vejamos o que disse o Presidente Jair Bolsonaro quando de sua posse no último dia 1º de janeiro. Dentre outras coisas, enfatizou: “Aproveito este momento solene e convoco, cada um dos Congressistas, para me ajudar na missão de restaurar e de reerguer nossa Pátria, libertando-a, definitivamente, do jugo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade econômica e da submissão ideológica” e foi mais fundo, “a corrupção, os privilégios e as vantagens precisam acabar” e cientificou: “Montamos nossa equipe de forma técnica, sem o tradicional viés político que tornou nosso estado ineficiente e corrupto”.
Claro que como os discursos anteriores proferidos nesses 30 anos da Sexta República Brasileira não podemos levar ao pé da letra, até porque existe uma tensão entre o que é dito e o que é feito, não é mesmo? Cabe ao Povo observar, pois, certamente, o Tempo – o Senhor da Razão – continuará revelando quem é quem nessa eterna Bruzundanga. Até domingo que vem!
O autor é Mestre em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp.