Como bem profetizou Ulysses Guimarães – político rio-clarense de Primeira Grandeza, cuja reprodução de sua imagem registrada pelo repórter fotográfico Orlando Brito compõe a paisagem de toda a avenida homônima, desde a Avenida Nossa Senhora da Saúde até a Avenida 80-A em oito belíssimas esculturas vazadas –:
“A corrupção é o cupim da República.” E, infelizmente, foi sob a égide da corrupção que foram edificados os governos desde que a ‘Esperança venceu o Medo’. Como naquele conto de Machado de Assis parece que os políticos brasileiros que chegaram ao Poder nos últimos 16 anos, salvaguardando as raras exceções, tiveram pais que ensinaram muito bem a ‘Teoria do Medalhão’.
“Podes pertencer a qualquer partido, liberal ou conservador, republicano ou ultramontano, com a cláusula única de não ligar nenhuma ideia especial a esses vocábulos, e reconhecer-lhe somente a utilidade do scibboleth bíblico”, explica o progenitor ao filho no texto publicado em 1881 pelo Bruxo do Cosme Velho.
E continua: “Quanto à matéria dos discursos, tens à escolha: – ou os negócios miúdos, ou a metafísica política, mas prefere a metafísica. Os negócios miúdos, força é confessá-lo, não desdizem daquela chateza de bom-tom, própria de um medalhão acabado; mas, se puderes, adota a metafísica; – é mais fácil e mais atraente. (…) Um discurso de metafísica política apaixona naturalmente os partidos e o público, chama os apartes e as respostas. E depois não obriga a pensar e descobrir”.
Pois bem, vejamos o que disse Luiz Inácio da Silva no discurso de posse de seu primeiro mandato em 2003: “O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu Governo. É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida pública.
Não permitiremos que a corrupção, a sonegação e o desperdício continuem privando a população de recursos que são seus e que tanto poderiam ajudar na sua dura luta pela sobrevivência. Ser honesto é mais do que apenas não roubar e não deixar roubar.” Olhando com certo distanciamento de tempo, fica claro que o Condenado de Curitiba fez exatamente o contrário, não é mesmo?
Em meio ao Escândalo do Mensalão, “com a força da grana que ergue e destrói coisas belas” o petista ainda venceu as Eleições de 2006 e, em sua posse no dia 1º de janeiro do ano seguinte, teve a pachorra de novamente mentir descaradamente ignorando o fato de que já estava em meio ao lamaçal.
“O Brasil ainda precisa avançar em padrões éticos e em práticas políticas. Mas hoje é muito melhor na eficiência dos seus mecanismos de controle e na fiscalização sobre seus governantes. Nunca se combateu tanto a corrupção e o crime organizado.” Mentiras, mentiras, mentiras… Não vou entrar no que falou sua sucessora, pois, antes, teria de criar um dicionário com significados próximos do que externou para entender as sandices.
Enfim, não obstante dizer uma coisa e fazer outra, o que o pessoal da Intelligentsia Sinestrômana construiu foi uma plêiade de seguidores que tem uma habilidade imensa de incompreensão de texto, o que transforma o debate político em algo mesquinho, pois fixam a atenção em frases como “Vi Jesus no pé de goiaba” ou “Menino veste azul e menina veste rosa” e problematizam aquilo que é de cunho pessoal, deixando de lado os verdadeiros problemas da Nação.
Está mais do que na hora de iniciar uma conversa séria sobre os problemas estruturais, sem opiniões superficiais e ou radicalizadas. Como naquela canção do Titãs: “Tanto faz qual é a cor da sua blusa, tanto faz a roupa que você usa, faça calor ou faça frio é sempre carnaval no Brasil!” Até semana que vem!
O autor é Mestre em Divulgação Científica e Cultural pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp.