Peço licença ao leitor desta coluna. Quem vos escreve nesta manhã, não é o colunista da página 2 às terças-feiras e nem o redator esportivo do Diário Esportes, diariamente.
Guardo ambos momentaneamente na gaveta da discrição e das formalidades e assumo a lembrança do garotinho ainda pequeno que, na década de 70 e início da de 80, ia ao estádio Benito Agnello Castellano, levado pelas mãos por seu pai, sócio patrimonial do Rubro-Verde mais querido do interior do estado de São Paulo, proprietário da cadeira vitalícia No. 24 Fila E.
Ali, no Benitão, entendi e aprendi o que é futebol, essa chama ardente que move meu coração. O futebol bonito, bem jogado, bem disputado, com raça, que era tão somente uma lembrança meio nebulosa que eu trazia dos jogos do CA Nacional, da Vila Americanópolis, o Barro Preto, o II Distrital de Rio Claro, time e estádio que meu pai ajudou a fundar e conquistar. E disso só restou saudade a quem conheceu e viveu.
Mas, devo dizer, caro leitor, que foi no Benitão, naquelas arquibancadas levantadas com tanto esforço e vontade pelos velistas, que vivi os meus melhores e mais ambiciosos sonhos de infância. O estádio que parecia tão imenso, tão enorme para o garotinho que eu era, hoje, parece até pequeno e acanhado para homem de 55 anos que sou.
No último sábado, vivi uma emoção única. Quarenta e cinco anos depois, deparar-me com a possibilidade do sonho realizado. Confesso que hesitei. Porque o medo é algo inerente à vontade humana. O medo de perder, de voltar triste para casa, e sozinho. Mas, já na arquibancada, meio espremido em meio à multidão vermelha que tomou de assalto as arquibancadas do Benitão, criei coragem quando olhei em direção ao gol da avenida 19, o gol da Santa Casa, e parece então, que, me vi lá de novo. Aos 20 anos, junto de meus amigos, Sergião, Charles, Marcos, Eduardo e seu radinho de pilha, nosso plantonista nos informando sobre os resultados dos outros jogos.
Pendurados no alambrado ali ficávamos, apupando o goleiro adversário, torcendo para que aquela abençoada bola entrasse. Era 1991. Em campo um Velo Clube valente e vitorioso, formado em sua maioria por garotos de Rio Claro, mesmo, pratas da casa, comandados por um técnico polêmico, estrategista e vencedor.
Anos antes, lá pelos idos de 1980 e alguma coisa, cheguei a ir com meu amigo Gilberto assistir a uma partida amistosa do Velo, em Ipeúna. E fomos de moto. Eu, na garupa. De outra feita, fomos ver um jogo do Velo, em Leme, ainda no antigo estádio, que hoje, nem existe mais. E me lembro do zagueiro Valentin vindo buscar a bola dentro do gol do Lemense, na tentativa de ainda buscar o empate, que não veio. De outra feita, convencemos o professor de Física, o educado, tímido e muito competente Sr. Bruschi, a alterar a data da prova, porque precisávamos assistir o Velo em uma partida decisiva contra o União São João de Araras. Valeu o esforço. Velo 1×0, gol do ponta direita Alves, aos 45 minutos do segundo tempo. Era 1984. Naquele mesmo ano, uma quarta-feira à noite, saímos mais cedo da aula, para ouvir no rádio do Fusca Verde do pai do Gilberto, o Lemão da Loteca, o empate do Velo contra o Mogi Mirim, 0x0. E comemoramos muito. Empate, naquele tempo, fora de casa, era vitória.
Mas, somos traídos pela realidade que naturalmente se impõe. Enquanto a bola rolava no gramado do Benitão, no último sábado, e os comandados do técnico Guilherme Alves lutavam para segurar o empate que daria o acesso à Série A1 ao Velo Clube, após 45 anos, por um instante, surgiu diante de meus olhos, o momento em que meu tio Daniel, irmão de minha mãe, me convidou para ir assistir ao Velo em Campinas, contra o Paulista de Jundiaí. Uma noite fria de junho. E fomos, a bordo de uma Brasília azul, entupida de gente. E meu primo Lemão, velista fanático empolgando a todos. Naquela noite, não veio o acesso e nem a vitória, que viria já no domingo seguinte. E lá estava eu, de novo, apenas 10 anos de idade, em direção à Campinas, naquela manhã ensolarada embora fria de 10 de junho de 1979, mas dentro do Opala amarelo do Sr. Ailton, pai dos meus vizinhos Emerson e Clévio, amigos queridos. Íamos levando as bandeiras vermelho e verde que a dona Clarice, a mãe deles, havia feito pra nós. Naquele dia, sim, fizemos festa. Vitória por 2×1, Velo na Divisão Especial.
Os olhos marejados de lágrimas, o coração disparado tem novamente diante de si o estádio Benitão e o jogo lá embaixo comendo solto naquele 6 de abril de 2024, o dia histórico. O Velo, com um homem a menos em campo, lutando pra segurar o empate. Jogo sofrido, resultado chorado, difícil, afinal, é o Velo. E nem poderia ser diferente.
Meus olhos, sempre eles, buscam por um instante a arquibancada geral, do lado de lá, onde tantas vezes estive com meus amigos, cheios de sonhos e esperanças. Não sei dos amigos. Mas, o Velo está em campo, bem perto da sua maior conquista após 45 anos. A bola é rebatida em direção ao meio do campo. Meus olhos estão grudados no árbitro do jogo. E ele, finalmente, levanta os braços e apita pela última vez… Por um instante, o mundo, o meu mundo, parou. Quanta alegria! Finalmente. Nem posso acreditar! O campeão voltou!
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Ilustrativa/Reprodução Internet.