Chegando a hora, o dia, o mês.
O ano vem de enxerido. O calendário nacional marca o dever de votar. Voto obrigatório, na urna eletrônica. Dia sete de outubro de 2018. Um domingo, dia do Senhor, mas também dia do povo. Povo que planta esperança e, no mais das vezes, colhe ilusão e decepção. Mas, fazer o quê? Já estamos bem viciados: de quatro em quatro anos, lá vamos nós arrastando nossas sandálias, com o título de eleitor nas mãos para digitar um número na urna. Às vezes, nem sabemos quem se esconde por detrás desse algarismo. O acaso nos surpreende.
Mas, apesar da aparente inutilidade desse ritual de votação, absurdamente marcado pela estupidez do extremismo, como acontece neste ano – facadas, balas, impropérios de todos os lados – há os que sabem tirar proveito dessa situação. Não apenas proveito financeiro, o mais comum. Mas, os que sabem penetrar na profundidade dos acontecimentos: um carnaval, uma Copa do Mundo, as campanhas eleitorais, por exemplo.
Sei de um eleitor que, a cada ano, nos dias que antecedem o pleito, em meio ao ruído aloucado das promessas dos candidatos, discretamente se recolhe, abre a Bíblia e procura uma fala ou atitude de um profeta, ou do próprio Jesus, ou do escritor do livro e procura aplicar aquele texto ao momento vivido hoje. Atualiza a mensagem desse texto para entender melhor os acontecimentos que ocorrem em 2018.
Neste ano, por exemplo, ele parou no cap. 25, 3 do Evangelho de Mateus para sugar e datar para hoje aquele recado de Jesus, em Mt. 25, 3. Jesus, o grande líder do povo, simulou o julgamento final da humanidade, expondo seus critérios para tal julgamento. Interessante observar que esses critérios partem todos de um projeto humano e social. Não são exigências estritamente piedosas, como rezar, comungar, ir à missa ou ao culto.
A cobrança no julgamento final é se se comprometeu em sanar a fome, a sede, a doença, a residência, a roupa do outro na situação de excluído, negado . É, portanto, um julgamento a partir de situações sociais e políticas. Aqui cabe, portanto, uma reflexão e uma decisão séria sobre os compromissos que temos com o exercício da politica, tanto na condição de candidatos, como na condição de eleitores.
Esse julgamento não é predatado. Ele vai acontecendo sempre, até o final dos tempos. E Jesus não se coloca no julgamento como individuo, como um EU pessoal. Jesus se coloca como voz de todo um povo oprimido, Ele é o ser coletivo de todo o povo negado, excluído.
É como se todo o povo empobrecido, faminto, esfarrapado gritasse: Eu estou sem comida, minha favela não tem água nem esgoto, nossas tribos não têm mais terra, nem animais nem peixes para sobreviver, nossos direitos de mulheres são negados e sonegados, o direito ao trabalho nos foi usurpado. O julgamento final será Deus ouvindo o clamor do seu povo.
E esse clamor também chega até nós, candidatos e eleitores? Ou estamos surdos ao clamor deste povo. Vocês candidatos, em suas campanhas e em seus propósitos, estão atentos à situação deste povo brasileiro acabrunhado em seu desespero por emprego, por comida, por direitos respeitados, enfim, por uma vida digna? Ou só pensamos nas benesses do poder que o cargo politico nos trará? O líder Jesus, entre benditos e malditos, assim encerrará o seu julgamento como advertência: estive com fome, com sede, sem roupa, doente, sem perspectiva de vida e vocês não estavam nem aí. O seu voto é a oportunidade de reverter essa situação.
Por Pe. Otto Dana