O mês de setembro é dedicado à conscientização para prevenção ao suicídio. O tema é complexo e permite várias abordagens. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), no Brasil, 32 pessoas se suicidam diariamente. Na busca por um entendimento para as causas desse grave problema social que atinge pessoas de todas as faixas etárias, classes sociais e nível intelectual, o Jornal Diário do Rio Claro entrevistou o dirigente espírita rio-clarense, Edson Montemor, presidente do Centro Espírita Verdade e Luz.
O Espiritismo trata o assunto de maneira lúcida, consolando e esclarecendo e fazendo renovar a esperança, nos corações aflitos daqueles que perderam entes queridos em decorrência do suicídio. Surgido em 1857, com o lançamento do livro “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, o Espiritismo se fundamenta no tripé Ciência, Filosofia e Religião. O Brasil é o país com maior número de adeptos, 4 milhões, e conta ainda com cerca de 40 milhões de simpatizantes. Confira a entrevista!
Qual o entendimento que o Espiritismo tem sobre o suicídio?
Edson Montemor: O suicídio voluntário (aquele que a pessoa age deliberadamente e consciente do seu ato) é uma transgressão da lei Divina, mas diferente de outras doutrinas, O Espiritismo enxerga que o suicida não está fadado ao sofrimento eterno. Haverá o momento do despertar da consciência e esse Espírito imortal voltará à sua jornada ascensional.
De que maneira o Espiritismo pode contribuir para a prevenção do suicídio?
Edson Montemor: Qualquer doutrina espiritualista, ou seja, a que crê na continuidade da vida, de alguma maneira contribui para a compreensão de que a vida continua, e por óbvio, a morte não cessará o sofrimento que o potencial suicida gostaria de se livrar. O Espiritismo em especial, que disponibiliza toda uma literatura especializada, e ainda estimula a caridade (que é olhar para o outro), fortalece o indivíduo para ressignificar o sofrimento e se fortalecer ante os desafios existenciais. O materialismo, ao contrário, estimula a fuga covarde pelas vias da ilusão.
A tendência humana de valorizar mais o aspecto material que o espiritual da vida é um facilitador para que a pessoa venha a cometer o suicídio?
Edson Montemor: A sociedade moderna, com o estímulo ao hedonismo que defende a busca pelo prazer como a finalidade da vida humana fortalece o ego e por conseguinte o egoísmo enfraquecendo o Espírito. Mesmo entre aqueles que se consideram espiritualistas, mas se deixam levar pelos estímulos da materialidade e das paixões terrenas, acabam criando uma tendência de enxergar todo sofrimento como algo a ser evitado a qualquer custo. Nós, espíritas, por outro lado, entendemos que o sofrimento pode ser uma mola propulsora à compreensão da vida e um estímulo para a caminhada
A ideia recorrente do suicídio pode ser indicativo de uma possível influência espiritual na vida da pessoa que alimenta essa ideia?
A mente dos encarnados ou não, é como uma antena receptora e emissora de pensamentos e sentimentos e todos nos influenciamos uns aos outros. Paulo de Tarso nos avisou que temos uma multidão de testemunhas. O grande psicanalista Carl Jung nos fala sobre o inconsciente coletivo. Nossa avó já dizia: “Diga com quem andas e te direi quem és, e as Leis da Física nos indicam que os “iguais” se juntam. O Espiritismo prescreve que ninguém consegue colocar uma ideia suicida em uma mente otimista e voltada para o bem, mas qualquer ideia ou sentimento que alimentamos pode ser multiplicada por entidades desencarnadas ou mesmo encarnadas, estimulando em nós aquela gérmen de pensamentos que idealizamos, multiplicando-os.
Segundo o Espiritismo quais seriam as causas do suicídio?
Edson Montemor: Não podemos colocar todo o suicida em uma mesma situação. Todas as questões humanas variam ao infinito. Alguns aspectos que podemos encontrar na maior parte dos suicidas são: A ilusão de serem apenas os seres carnais e que a morte acaba com o sofrimento; Algo que podemos chamar de inanição espiritual, ou seja, a pessoa não alimenta seu EU verdadeiro, sua essência espiritual adequadamente, enfraquecendo-o; Mas a grande questão é a falta de fé em Deus e em si mesmo. Ninguém que compreende sua filiação Divina pode acreditar que está desamparado e também, que sendo feito à imagem e semelhança do Criador, não encontrará em si a força necessária para vencer as vicissitudes da vida.
E completando a pergunta anterior, quais seriam as consequências para a pessoa que se suicida, considerando a continuidade da vida no mundo espiritual?
Edson Montemor: O Espiritismo se divide em três pilares: Filosofia; Ciência e Religião. E é na Ciência experimental que comprovamos pelos relatos dos próprios suicidas que dão seu testemunho, quais são as consequências desse ato cometido, via de regra por um desespero exacerbado. O primeiro aspecto que destacamos, é uma profunda desilusão por não ter encontrado o fim de suas dores, mas ao contrário, vê-las aumentadas significativamente. Depois, a recapitulação da experiência acrescida das dificuldades que carreou com seu desatino.
Outras religiões entendem que não há salvação para o espírito da pessoa que comete o suicídio; como o Espiritismo vê essa questão? Concorda ou discorda? E por quê?
Edson Montemor: Deus é pai. A crença no Deus vingativo foi necessária para a humanidade do passado, ainda muito embrutecida. Jesus nos trouxe uma nova abordagem. O Deus do amor, da benevolência. Todos os seus ensinamentos nos mostram isso, mas destacamos aqui a parábola do filho pródigo. Jesus nos mostra um Pai acolhedor e amoroso independente dos erros cometidos pelos seus filhos. Como imaginar um sofrimento eterno decretado por aquele que nos orienta a perdoar setenta vezes sete vezes? Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço? O Espiritismo respeita todas as crenças, e compreende que não seremos salvos por aquilo que apenas acreditamos na mente, mas por aquilo que exercitamos pelo coração. Há uma mensagem do benfeitor Emmanuel que resume essa questão. O título é: “Perdoados mas não limpos”. E podemos resumir suas reflexões afirmando que Deus conhece nossas fraquezas e de certa forma espera mesmo que erramos, assim como nós sabemos que até aprender a andar, nossos bebês cairão algumas vezes. Por isso, Deus perdoa nossas faltas, mas não significa que não devemos reparar os erros cometidos. Arder em um fogo eterno não há reparação, apenas punição. Não foi esse o Deus apresentado por Jesus. Ele sempre nos dará uma nova chance para acertarmos.
O Espiritismo oferece algum tipo de orientação para as pessoas acometidas da ideia do suicídio? Qual seria essa orientação e como buscá-la?
Edson Montemor: A maior parte das Casas Espíritas conta com o Atendimento Fraterno que é uma conversa onde o orientador buscará uma abordagem confortadora para os dramas que a pessoa está passando, abrindo novos horizontes para aquele que sofre. Concomitante a isso, sugerimos os passes magnéticos para fortalecimento da energia esvaída pela dor. No atendimento, o orientador perceberá também se haverá a necessidade de um tratamento espiritual para o afastamento de influências negativas. Passada a fase aguda, a pessoa será orientada a se dedicar aos estudos e conhecimento de si mesmo, e à prática da caridade por serem ferramentas poderosíssimas para o fortalecimento espiritual. Como buscar? Entre em contato com uma Casa Espírita que seja filiada à USE (União das Sociedades Espíritas). Caso essa Casa não esteja aparelhada para o atendimento, indicará uma que estará.
Movimentos como o Setembro Amarelo, que visam alertar sobre a prevenção ao suicídio são importantes na sua opinião?
Edson Montemor: Sim, claro! De extrema importância. Se não fossem essas iniciativas, essa entrevista, por exemplo, não existiria. Buscai e achareis…Ao trazermos o assunto para a superfície de nossos entendimentos encontraremos a saída. Se tratarmos o assunto como um tabu, não damos a chance de esclarecimento.
Quais livros espíritas indicaria para as pessoas que desejam saber sobre o assunto suicídio?
Edson Montemor: Há extensa literatura que descreve o Mundo Espiritual, a começar pelas obras básicas de Kardec e a série André Luiz. Mas para o assunto específico suicídio há uma obra clássica, muito densa psicografada por uma excepcional médium, Dona Yvonne Pereira cujo título é “Memorias de um suicida”, livro aliás que estou relendo nesse momento.
Na 2ª parte do Livro Céu e Inferno de Kardec (cap.V) há nove exemplos de espíritos que vem dar seu testemunho do que aconteceu com eles no plano espiritual.
Deixe uma mensagem às pessoas que pensam em se suicidar. E, se possível, uma também aos familiares de pessoas que cometeram o suicídio
Edson Montemor: Para você que está passando por dificuldades ou conhece alguém. Acredite: Tudo passa! Não há mal que dure para sempre. Saiba também que não está só. Deus te ama incondicionalmente e sempre manda ajuda. Mas muitas vezes, com o foco apenas em nossa dor não enxergamos Seus enviados e avisos. Pratique o hábito da oração sincera e peça forças para superar suas dificuldades. Uma forma que também diminuímos nossa dor, é tirar um tempo para amenizar a dor do próximo. E para os familiares. Deus é amor e ninguém desampara. Ele buscará todas as ovelhas perdidas. Ore pelo seu querido e procure você também permanecer em equilíbrio, pois assim facilitará a ajuda necessária. Busque apoio em uma Casa Espírita ou em um grupo de oração de sua doutrina de preferência. Juntos nos fortalecemos.
Palavra livre para acrescentar o que entender necessário.
Edson Montemor: No Evangelho de Mateus, Cristo exorta aos que sofrem irem ao seu encontro e aceitarem seu jugo leve e seu fardo suave. Já na questão 621 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta o que são as Leis Naturais ou Divinas. E os Espíritos respondem que são aquelas feitas para nossa felicidade, só é infeliz quem dela se afasta. Ou seja, se estivermos com Cristo, agindo dentro de sua Lei de amor, ainda que venham desafios, dores e doenças, estaremos fortalecidos dentro da mesma Lei. Eu traria também um trecho da carta de Paulo à Timóteo: Venha antes do inverno. Venha buscar o conforto de uma doutrina esclarecedora e confortadora antes que as tormentas do inverno nos atinjam. Busquemos ainda hoje o autoconhecimento e façamos acender nossa luz. As Casas Espíritas oferecem vários cursos e grupos de estudos onde além do conhecimento da doutrina, criamos vínculos de fraternidade e proteção incríveis.
Por Geraldo Costa Jr.