Olá, amigos.
Escrevo do autódromo belga localizado entre as cidades de Spa e Francorchamps, onde neste fim de semana está sendo disputada a 13ª etapa do Campeonato Mundial de Pilotos de F1. A pista ocupa parte das estradas que conecta não apenas as duas cidades mencionadas, mas outras, como Malmedy e Stavelot. Estamos na região das Ardenas, cadeia de montanha que abrange a fronteira da Bélgica, França, Luxemburgo e Alemanha.
Dou esses detalhes porque foi bem aqui onde estou que, em maio de 1940, as forças armadas alemãs surpreenderam o mundo ao passar com suas unidades blindadas, seguida pela infantaria, para invadir a França em cerca de 40 dias, apenas, no início da II Guerra Mundial. A reta das famosas curvas Eau Rouge e Raidillon do Circuito Spa-Francorchamps é, na realidade, a estrada que há 78 anos as tropas comandadas pelo general Fedor von Bock passaram para avançar na direção da França.
Nós dizíamos que eles surpreenderam o mundo em razão de as táticas de guerra até então não preverem que um exército pudesse ultrapassar uma cadeia de montanhas. Por esse motivo os franceses haviam concluído, em 1936, uma linha de defesa, a chamada Linha Maginot, que se estendia ao longo da fronteira entre o seu país e a Alemanha.
Eram casamatas, túneis, paióis de munição subterrâneos, postos de observação, galerias, alimentos estocados, tudo para resistir a novo ataque dos alemães, como fora na I Guerra Mundial, de 1914 a 1918. Mais ao norte não seria necessário uma construção dessa natureza, pois havia uma barreira natural, as Ardenas. Os alemães não tinham como superar a cadeia de montanhas.
Erro crasso. Os arquitetos e engenheiros franceses se basearam nos ensinamentos da I Guerra Mundial para projetar e construir a Linha Maginot. Ocorre que essa foi uma guerra de trincheiras, onde os soldados basicamente permaneceram naquelas valas cavadas no solo, com ataques das artilharias. A II Guerra foi oposta. Se caracterizou pelo movimento das tropas, uma geração de armas que pouco tinha a ver com o primeiro conflito mundial e, claro, a evolução das táticas de combate.
Os alemães já haviam utilizado a sua blitzkrieg na invasão da Polônia, Noruega e dos países baixos. Ela consistia de um bombardeamento aéreo prévio, seguido pela ação da artilharia móvel, das unidades blindadas e, depois de quase tudo destruído, a invasão pela infantaria. Essa tática, bem coordenada pelos comandantes alemães, associada à eficiência de suas armas, levou a Alemanha nazista dominar as nações que invadia em semanas, apenas. Ninguém estava preparado para a blitzkrieg.
Os franceses esperavam os alemães na sua fronteira, atrás da Linha Maginot, e no Norte, depois de eles passarem pela Bélgica. Mas os alemães vieram com o seu Exército B pelo centro, como mencionado pelas Ardenas, e isolaram o grosso do exército aliado, formado pelos franceses e britânicos, ao norte.
Eles ficaram encurralados nas praias de Dunquerque, no Canal da Mancha. Em poucos dias os aliados transportaram 300 mil soldados, em todo tipo de embarcação, para o outro lado do canal, a Inglaterra.
A região aqui do Circuito Spa-Francorchamps foi testemunha também, no fim da II Guerra Mundial, de um assassinato em massa, conhecido como Massacre de Malmedy. No fim da grande reta da pista, os carros já estão no município de Malmedy, haja vista que há uma curva com seu nome. Em dezembro de 1994, os aliados estavam empurrando pelo Oeste o que restou nas forças armadas alemãs de volta a seu território. Os russos o faziam pelo Leste.
Os alemães realizaram um contra-ataque, definido como a Batalha das Ardenas, que surpreendeu os aliados pelo contingente militar e poder de fogo. Foi a última grande ação militar coordenada pelos nazistas antes da rendição a 7 de maio de 1945. Uma unidade da SS, a elite do exército alemão, capturou 84 soldados americanos. Sob o comando do oficial Joachim Peiper, eles foram executados. Julgado depois da guerra, Peiper cumpriu 12 anos de prisão. Solto, foi descoberto por um grupo de franceses, em 1976, e assassinado.
Se você assistir ao GP de F1 neste domingo, lembre-se de que por onde os carros estão passando os panzers, ou tanques alemães, também passaram, em 1940, para invadir a França, país ocupado pelos nazistas até 1944. E que perto do fim da grande reta, em Malmedy, houve um massacre de militares americanos.
Nosso próximo encontro, na semana que vem, será em Monza, na Itália. Já que estamos falando da II Guerra Mundial, que tal abordarmos a tentativa de fuga do ditador Benito Mussolini para a Suíça, em abril de 1945, sua captura, execução e exposição do corpo em praça pública, ali do lado de Monza, em Milão? Desde que, obviamente, não haja nada de grande relevância na ciência para apresentarmos.
Por Lívio Oricchio