Fazer sucesso pode ser, antes de tudo, estar sozinho.
Exposto, o bem-sucedido sente a angústia de ser a cabeça acima da multidão. Por isso, tanta gente prefere ser igual a todo mundo.
Assumir sua própria singularidade exige coragem. Mas com a coragem vem a angústia. Por isso, muita gente prefere deixar como está a arriscar ser feliz. A covardia pode ser a receita de uma vida comum, tranquila, sem desafios. “O herói morre uma única vez. O covarde morre todos os dias”. Sábias as palavras de Shakespeare, não?
Óbvio que não defendo aqui que todos têm que sair em busca de grandes destinos. Ao contrário, o desafio que se lança é identificar o grande destino que atende o seu desejo, mesmo que seja ficar onde está. Se está onde está, seja no trabalho, no relacionamento, bem com você mesmo, tanto melhor, parabéns. Mas para identificar isso é preciso ser verdadeiro, livrar-se das inúmeras capas de justificativas que se acumulam feito camadas de uma cebola para protegê-lo do seu desejo não realizado.
Há, é claro, o medo, que é inerente a todos nós e, em sua medida, necessário para nossa sobrevivência. Muitas vezes temos medos que sabemos serem infundados.
Justificamos a não realização de um sonho como se a vida primeiro tivesse que nos dar a adaptação. Deixamos de lado algo pelo qual lutar nos daria um significado maior pensando sempre que é preciso ter as condições ideiais para fazer.
Não se pode esperar que a vida se adapte aos seus sonhos. O mundo não para para escutar você. Há, é claro, para os que acreditam, a grande ajuda do invisível aos olhos, mas é preciso fazer a sua parte. E a sua parte quase sempre envolve uma boa dose de riscos.
E a avaliação muito criteriosa dos riscos também pode paralisá-lo.
Bom talvez é pensar nos riscos como um chamado à coragem. Há muita aventura reservada para quem empreende a direção do seu caminho de bem-aventurança.
Me faz lembrar – já o citei em artigos anteriores – o escritor argentino Ernesto Sábato. Físico nuclear, após seu doutorado foi trabalhar no Massachussets Institute of Technology, o lendário MIT.
Em 1940, já com esposa e filhos, decidiu abandonar tudo para se dedicar exclusivamente à literatura e à pintura. Boa parte dos ditos amigos se afastaram, taxando-o de louco irresponsável. Décadas depois, Sábato, que ao lado de Borges é considerado um dos maiores escritores que a Argentina deu ao mundo, resumiu sua inquietude em poucas palavras: “creio que a verdade é perfeita para a matemática, a química, a filosofia, mas não para a vida. Na vida, contam mais a ilusão, a imaginação, o desejo, a esperança”.
Sábato faleceu em 2011, aos 99 anos.
Claro que nesse jogo de reinvenção que a vida irrealizada nos cobra, uns acertam, outros fracassam. Mas a diferença entre fracasso e sucesso pode estar em quem prefere desistir a seguir em frente.
Vale também (para reforçar) a máxima de Shakespeare para o amor, para o trabalho, para tantos que vivem a contar sobre o que poderiam ter sido. “Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar”.