Olá amigos. Desta vez escrevo da Áustria. Não é para falar de turismo, apesar dos encantos do país, mas de algo que aprecio sobremaneira, a divulgação científica. Esta semana a sonda Hayabusa 2, da agência espacial japonesa, Jaxa, entrou em órbita do asteroide Ryugu, uma montanha com cerca de 900 metros de diâmetro que circula o Sol na faixa entre Marte e Júpiter, a 280 milhões de quilômetros da Terra.
Hayabusa 2, que significa falcão peregrino em japonês, decolou da base de Tanegashima, ao sul da ilha de Kyushu, no dia 3 de dezembro de 2014, e apenas agora chegou no destino, para se ter uma ideia de como é longe. Você já pensou em quão complexa é a navegação para atingir o asteroide, diante da velocidade com que tudo se move no Universo, resultado da gravidade?
Qual o objetivo do projeto? Hayabusa 2 vai permanecer cerca de um ano e meio orbitando o asteroide a uma altura média de 20 mil metros, baixa portanto. Nesse tempo enviará para a superfície dois robôs, de nome Minerva e Mascot. Sua função é analisar a composição das rochas, fazer um mapa da variação da temperatura, medir o campo magnéticos, dentre outras.
Agora o mais incrível: Hayabusa 2 vai se aproximar da superfície e recolher material para trazê-lo de volta a Terra, a fim de poder ser analisado em regime laboratorial. A chegada ao nosso planeta está prevista para daqui a dois anos.
Qual a importância de uma missão dessa natureza? Amigos, Hayabusa 2 está diante de um fóssil vivo da formação do nosso sistema solar, há 4,6 bilhões de anos. Foi o encontro de asteroides como Ryugu que formou os planetas, dentre eles a Terra. Estamos olhando para uma peça do mosaico que nos deu origem.
Conhecer que materiais existem nesse asteroide representa entender como o nosso planeta se formou e que elementos básicos existiam para o surgimento da vida. Imagine se os bioquímicos encontrarem além do carbono, água, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo, enxofre. São os tijolos essenciais para a vida florescer.
Seria apenas uma questão de o asteroide colidir com o corpo celeste certo para a vida surgir, como foi o caso da Terra pouco mais de um bilhão de anos depois da sua formação. Sim, hoje sabemos que a vida começou na Terra antes do que imaginávamos.
Por corpo celeste certo entenda uma superfície onde a variação de temperatura permita a água manter-se em estado líquido e a existência de uma atmosfera e um campo magnético para proteger os compostos orgânicos da radiação solar e cósmica. Sem isso eles se decompõem e a vida não poderia florescer, ao menos até onde sabemos hoje.
Esse é o lado fascinante da astrobiologia. Pense como será se descobrirmos formas de vida capazes de suportar a radiação solar e cósmica. Ampliaria exponencialmente a possibilidade de vida no Universo. Boa parte dos astrobiólogos acredita que o nosso modelo de formação da vida é somente um dentre vários.
Repare que Hayabusa 2 enriquecerá bastante nosso conhecimento não apenas sobre a origem do sistema solar como do fenômeno da vida. De novo: a sonda nos proporcionou, a rigor, uma viagem no tempo, à época em que tudo começou no nosso sistema solar. Super válido, não acham?
Mais: não é um erro acreditarmos que outros sistemas solares se formaram de maneira parecida, apesar da grande diversificação de origens que os estudos dos exoplanetas nos têm proporcionado. Há mundos incrivelmente estranhos espalhados pelo Universo.
O nosso é um modelo de bom comportamento, resultado também da sua evolução ao longo dos 4,6 bilhões de anos. Podemos dizer que o equilíbrio do nosso sistema solar decorre de viver hoje sua maturidade.
Os norte-americanos também reconhecem, obviamente, a importância de um projeto como o de Hayabusa 2. Por essa razão enviaram em setembro de 2016 a sonda Osiris Rex para fazer algo semelhante no asteroide Bennu. Há um agravante nesse caso: Bennu é um asteroide que pode, no futuro, entrar em rota de colisão com a Terra. Portanto é bom conhecê-lo bem. Até o fim do ano Osiris Rex chegará lá.
Por Lívio Oricchio