Olá amigos. Por eu estar próximo a Cambridge, aqui na Inglaterra, relativamente perto de Woolsthorpe, onde nasceu um dos maiores gênios da humanidade, Isaac Newton, que tal aproveitarmos que a Terra passou sexta-feira pelo ponto mais distante da sua órbita do Sol, o afélio, e falar um pouco sobre o tema? Se for o seu caso, vença a resistência de ler sobre ciência. Você pode, de repente, descobrir um imenso universo de satisfação.
Newton não apenas nos deu a lei da gravitação universal, que nós estudamos no segundo grau. Esse tão notável quanto inteligente e complexo ser humano nos ensinou como fazer ciência. Em vez de propôr apenas postulados, como se fazia, Newton mostrou com suas equações ser fundamental quantificar os conceitos e poder fazer previsões precisas. E isso em 1687. Quem se lembra das três leis de Newton?
Nessa conversa, no entanto, vamos nos ater a lei da gravitação universal. Garanto que você vai entender. De forma bem simplificada, todo corpo com massa atrai outro corpo com massa. A lua gira ao redor da Terra porque o nosso planeta exerce uma força de atração, assim como a Terra faz a sua órbita ao redor do Sol pelo mesmo motivo.
Mas nós falávamos de a Terra atingir o ponto mais distante do Sol na sua órbita. O nosso planeta atingiu na sexta-feira, às 14h46, horário de Brasília, 152 milhões quilômetros do Sol. No dia 3 janeiro, a Terra atingirá a sua menor distância do Sol, 147 milhões de quilômetros. Repare que entre o instante em que a Terra está mais distante do Sol, o afélio, e mais próximo, periélio, há uma diferença considerável de 5 milhões de quilômetros.
Isso acontece porque a órbita da Terra não é circular, mas elíptica, meio ovalada. Em determinado momento, 6 de julho, está mais longe do Sol, enquanto em outro, 3 de janeiro, mais perto.
Essa diferença de 5 milhões de quilômetros entre o afélio e o periélio gera uma consequência: a velocidade de translação da Terra, a da órbita ao redor do Sol, varia. Voltamos a Newton. Ele mostrou que a força de atração de um corpo varia com a distância. Quanto mais perto, maior a atração gravitacional. Mais longe, menor.
A força de atração que o Sol exerce em Mercúrio, o primeiro planeta do sistema solar, é bem maior que a exercida sobre Netuno, o oitavo e último. Mercúrio está a algo como 58 milhões de quilômetros do Sol e Netuno, a 4,5 bilhões de quilômetros.
Assim, como a Terra passou sexta-feira a 152 milhões de quilômetros do Sol, a força gravitacional da nossa estrela é menor. A velocidade de translação no ponto do afélio é de 105.444 quilômetros por hora (km/h) ou 29,2 quilômetros por segundo (km/s). Quando a Terra atinge seu periélio, o ponto mais próximo do Sol, a força gravitacional da estrela é maior, assim a Terra percorre essa fase da órbita a 109.044 km/h ou 30,2 km/s.
Quem bem demonstrou essa questão das velocidades distintas, dependendo do ponto da órbita, foi outro cientista magnífico, o alemão Johannes Kepler, antes de Newton, por volta de 1600.
Enquanto há uma diferença de 5 milhões de quilômetros entre o afélio e o periélio, há uma diferença de cerca de 4 mil km/h (109.044 – 105.444) de velocidade orbital entre um e outro ponto. Como explicado, quanto mais longe do Sol, menor sua força gravitacional, menor portanto a velocidade de translação.
A Terra tem outros movimentos também. O mais conhecido deles é o que executa ao redor do seu próprio eixo, chamado de dia. Já que estamos falando de velocidade, saiba que você está me movendo a mais de 100 mil km/h ao redor do Sol e a 1.600 km/h, mais ou menos, ao redor do eixo da Terra. Mais rápido que o som. Não acabou. O nosso sistema solar também gravita o centro da Via Láctea, nossa galáxia, onde há um buraco negro supermassivo exercendo enorme atração gravitacional, a nada menos de 800 mil km/h. São necessários 233 milhões de anos para o sistema solar completar a órbita ao redor do centro da Via Láctea.
E tem mais, a nossa galáxia também se desloca pelo espaço ao redor do centro de galáxias que foram o Grupo Local, a quem pertencemos. Em resumo, amigos, nós estamos sempre, acordados ou dormindo, nos deslocando pelo universo a velocidades estonteantes. Como essa que acabou de ver, a da Terra ao redor do Sol, no seu ponto mais distante da órbita, nada menos de 29,2 km por segundo. Você iria de São Paulo a Belém do Pará, por exemplo, 2.500 km, em 85 segundos, ou 1 minuto e 15 segundos, bem rápido, não acha?
Por Livio Oricchio
E-mail: liviooricchio@gmail.com