Creditamos sempre na bobagem de que somos autônomos, que somos donos do nosso nariz e ninguém pode dar palpites em nossas vidas. Mas a verdade é que vivemos inseguros. Vivemos procurando sempre alguém que cuide de nós. Somos tão adultos nos afazeres do dia a dia e crianças emocionalmente.
Tentamos adivinhar os desejos de quem gostamos apenas para poder atender a nosso desejo fundamental: o de ser aceito. Ser desejado pelo outro é nosso principal desejo.
E na maioria das vezes, para atender a essa necessidade do ego você rifou seus gostos, abandonou hábitos de que gostava ou mesmo rompeu com seus princípios, fingindo ser outra pessoa.
Muitas vezes há tantas máscaras e tanta maquiagem encobrindo o eu verdadeiro, que a pessoa acaba sofrendo sem saber. Com pouca vida interior vamos, aos poucos, enquanto crescemos, sem perceber, nos tornando reféns das coisas exteriores.
Por que será que a gente é assim? Por que será que, ao menor sinal de incerteza, nossa tendência é correr para a zona de conforto e abraçar aquilo que nos dê uma garantia, mesmo sabendo que podemos ser mais?
Numa época em que o mais importante para aparecer basta parecer, fingimos o tempo todo. Não é à toa que temos as telas como nossas maiores companheiras. Da televisão, do computador, do celular, as telas estão por toda parte, oferecendo a perspectiva de um mundo mais interessante que o nosso, esvaziado de sentido.
E alguém que nasceu já há um bom tempo e enxerga com os olhos do mundo passado fica chocado com nossa total falta de resistência aos problemas que a vida apresenta.
Vamos vivendo como crianças em uma loja cheia de brinquedos sem saber o que escolher, pois a cada escolha vivemos com a angústia de que outra escolha diferente poderia ter sido melhor. Lidamos muito mal com a incerteza, com a capacidade de se manter. E as frustrações de pequeno prazo, por menores que sejam, são um verdadeiro terror. Cada vez menos nos permitimos deixar de fazer algo agora para colher os frutos lá na frente, e o mesmo mundo que te diz que economizar é muito importante, te grita que você deve gastar.
E vamos acreditando em mentiras, autojustificativas que nos servem de travesseiro na tal zona de conforto. A culpa por não fazer aquilo que sempre quis está sempre nos outros, no mundo, nunca em você.
Já notou como é difícil alguém assumir as próprias limitações? Talvez fazer isso seja o primeiro passo para conseguir se reinventar, e parar de reclamar. Não é culpa dos outros. Basta tomar sua vida nas mãos novamente e ter a coragem de se enxergar no espelho. Isso pode ser doloroso, mas é a única alternativa.
Todo herói de verdade tem sua fase de deserto. E viver talvez seja saber encarar esses abatimentos, principalmente nessa época em que tentam nos vender a ideia de que sentir dor é sinal de fraqueza. Bobagem.
É na dor que nos refazemos grandes, ela nos forja, como o ferro quente que se molda enquanto arde incandescente.