Lidamos mal com as incertezas. Por isso poucos assumem o risco de ir em busca daquilo que desejam. “Tá, mas e daí?”, você deve estar se perguntando. Em meio a cacofonia de sentidos e informações, somos carentes de atenção, aquela, olho no olho, no calor de um abraço, na inesperada palavra que pode despertar o melhor de nós. Vá a um show, por exemplo.
Veja, todos nós vivemos aqueles momentos com a mediação de uma tela de celular à nossa frente, para fazer vídeos que em pouquíssimo tempo se dissiparão no tempo, em meio a tantos outros.
Evita-se a todo custo o contato com alguém, principalmente se for desconhecido. Eu mesmo, confesso.
Lidamos mal com o que é incerto, mas somos feitos de caos. Ninguém sabe completamente o que é, e quantos fantasmas psíquicos nos atormentam dia a dia. No incompleto a aleatório que há em nós, uma incompletude que leva a pensamentos como “vou ser feliz quando”, ou “ainda vou fazer aquilo”, e almeja-se um lugar neste mundo que não existe.
Somos mal instruídos pelos filmes de Hollywood, ou os livros, sobre “aquilo que chamam amor”. Idealizamos um romantismo que nunca se realiza, e depositamos no outro o imenso peso de nos fazer feliz, e esse dia nunca chega da forma como a gente fantasia. Isso porque somos caos. E quando um caos encontra outro caos, há que ser sincero em assumir que quase tudo foge do “controle” que tanto queremos.
Perceba que os romances, e principalmente os filmes românticos mostram sempre o instantâneo, seja ele o início da paixão, um namoro de duas pessoas recém-saídas da adolescência, e muitas vezes, na maioria das histórias, termina com o casamento.
Quantas histórias resistiriam se o roteirista mostrasse o pós-paixão? Como está Cinderela hoje, bem depois do “E foram felizes para sempre”?
Claro, uma boa resposta é que o Cinema precisa dar lucro logo assim na primeira semana, então os estúdios investem mesmo é na fantasia. Tudo bem, não há crime nenhum em querermos um mundo de fantasia, ou mesmo de romper com o rame-rame do cotidiano para ir em busca de uma aventura, seja amorosa ou mesmo profissional.
Desejamos um mundo de felicidade, mas quando ele se nos apresenta, logo o rejeitamos, porque na maioria dos casos não suportamos a incerteza de um caminho sem nenhuma garantia. Mas o que é a vida, senão um contrato sem nenhuma garantia?
Na física, caos é gerado quando determinado fenômeno tem uma sensibilidade enorme das condições iniciais. Como numa mesa de bilhar, basta variar um pouquinho o ângulo da tacada para a bola ir numa trajetória completamente diferente da que planejamos. Assim se mostra a nossa vida. A cada instante uma mínima mudança, e tudo pode mudar e muda, de repente, em menos de um segundo.
Queremos uma vida planejada, num ideal de segurança inatingível. Perceber o caos que há em nós, e interagir com ele, mudar condições iniciais, refazer, reinventar, viver o fluxo intenso do tempo, pode ser angustiante, mas também enriquecedor para o espírito.
Há problemas demais em nós que precisam ser encarados. Vivemos torcendo para o dia passar logo, para poder ir embora do trabalho ou da escola para casa. Vivemos desejando que o mês acabe logo para receber o próximo pagamento, torcendo também para chegue logo o fim de semana. E assim, sem perceber você vai torcendo para que a vida passe depressa.
Olhar para o que te faz feliz e sentir pena de um dia ter que morrer, por não poder mais estar ali, é um passo importante para viver “cada vão momento”. Acreditando no que dizia o velho Nietzsche: “É preciso ter o caos dentro de si para gerar uma estrela dançante”.
Boa sorte!