A vontade de competir está no sangue de Simone Pessoa e de todo aquele que veste um quimono e coloca os pés e a alma em um tatame. Mas tem algo mais. Algo mais importante e só conhecido por aqueles que realmente sabem a importância do esporte, como elemento capaz de transformar vidas. É exatamente isso que o D’Esportes tentou revelar na entrevista que a Profa. Simone Pessoa, concedeu com exclusividade.
A trajetória de 49 anos, vitoriosa e bem sucedida, da atleta e professora Simone Pessoa é uma clara demonstração desse poder do esporte em aperfeiçoar o ser humano no aspecto físico e espiritual.
Nascida em berço de lutadores, no esporte e na vida, filha do Sensei Odajil Pessoa, mestre de judô e jiu-jitsu, Simone seguiu os passos do pai. Começou cedo, com apenas 4 anos de idade.
Trilhar esse caminho, iniciado precocemente foi difícil. Aos 13 anos, pensou em desistir. Mas a mãe a incentivou a continuar, com objetivo de chegar ao menos até a faixa preta. Desafio colocado e meta alcançada.
Entre as dificuldades, Simone Pessoa lembra de um fato marcante. “Estava em São Paulo, participando de uma seletiva, quando levei um chute proposital de uma adversária e acabei machucando o joelho gravemente, o que me fez ficar afastada do judô durante cerca de 1 ano. Não queria mais competir, revela. Os recursos eram poucos e incentivo só o da família. Então, surgiu a oportunidade de um intercâmbio e fui trabalhar pra ganhar a vida”.
Mesmo ainda sofrendo com as sequelas, da contusão no joelho, Simone conta que voltou aos tatames um ano depois, mais para testar os seus limites pessoais. “Resolvi competir por Rio Claro, mas, não tive nenhum apoio. São Carlos, então, me abriu as portas, me custeou a cirurgia, a fisioterapia e as condições básicas para treinar e competir. Lutei os jogos por São Carlos e ganhei a competição na minha categoria, ajudei a equipe a sagrar-se vice-campeã e conquistei o primeiro lugar na categoria absoluto. Em seguida, fui para Portugal fazer um intercâmbio. Voltei ao Brasil e fiquei 15 anos somente dando aulas, sem competir”.
Já em 2007, Simone Pessoa participou do Mundial Master de Judô, representando o Brasil, que sediou, inclusive, a competição. Fez 4 lutas e ficou em terceiro lugar. “Parei de competir, nessa ocasião. Mas, se instigar, eu volto”, fala com entusiasmo.
A partir daí, Simone passou a se dedicar apenas a ensinar e formar novos pupilos e o faz há 39 anos na Academia Pessoa, da qual é sócia-proprietária e em parceria com o Colégio Puríssimo Coração de Maria e também com o Colégio Claretiano, Colégio Objetivo e Escolas Municipais Pastor Nephetali e D. Pedro, além da Escola Pequeno Príncipe.
E surge o Jiu-Jitsu na vida de Simone Pessoa
Foi através de Homero Pessoa, seu irmão, que Simone foi apresentada ao Jiu-Jitsu. Ela recorda quando o Mestre Hélio Gracie esteve em Rio Claro realizando um seminário da modalidade da qual tomaram parte mestres do judô rioclarense, como Uadi Mubarac, Odajil Pessoa e João Gonçalves Filho, o Peixinho. “Era um jiu-jitsu rústico, visto como defesa pessoal. Mas, então, o mestre Hélio Gracie transformou em modalidade esportiva. Foi quando o Homero, meu irmão, foi aprender essa técnica. Dois anos depois, estava eu lá, seguindo o mesmo caminho, mais por curiosidade, com objetivo de aprender jiu-jitsu e adaptá-lo para o judô, porque na técnica de estrangulamento e chave de braço, o jiu-jitsu é mais avançado. Iniciei no jiu-jitsu, aos 30 anos, na faixa roxa, na qual permaneci cinco anos, aprendendo, e só depois, ganhei novamente confiança e voltei a competir. Ganhei o campeonato brasileiro e paulista, individual e por equipe”.
Foi um período vitorioso na brilhante carreira de Simone Pessoa que atingiu o seu ápice com a conquista do bi- Mundial Master, na categoria absoluto. Porém, as lesões no joelho retornaram. “Até tentei continuar, mas vi que não dava mais, fala, com certa tristeza”.
Dentre as conquistas, e foram muitas, de Simone Pessoa, a mais marcante, que ela recorda com carinho, não foram os inúmeros títulos exatamente, mas o reconhecimento dos mestres japoneses, que a escolheram como a atleta mais técnica da modalidade, em uma competição disputada em São Paulo.
“Sempre me dediquei bastante em aperfeiçoar a parte técnica do judô e do jiu-jitsu e assessorei minhas irmãs, Solange e Soraia, nesse sentido, e, inclusive meu pai, sempre que se preparavam para realizar exames para obter maior graduação na modalidade. Acordava às 5 da manhã e entrava no tatame. Já ia aquecida pra escola, recorda com ironia”.
Por esse motivo, Simone se define como uma professora dedicada e exigente, mas dentro dos limites da ética e da esportividade. “Tive uma formação muito rígida, mas, com carinho, da parte de meus pais”.
A vida e o exemplo ensinam
Sobre o pai, Odajil, mestre do judô, Simone lembra com saudosismo que ele saía do Grupo Ginástico, onde dava aula, e, correndo, pegava as filhas na escola e ia para a Academia Gonçalves Mubarac, onde também ensinava judô. Se perdíamos alguma luta, o castigo era voltar pra casa correndo”, lembra com satisfação.
O maior ensinamento que Simone herdou do pai, tanto na vida como no esporte, e que ela procura transmitir aos seus alunos, foi o de lutar sempre com garra e determinação, com humildade e honestidade, por aquilo que se deseja, mas, lutar dentro das regras.
“Meu pai não tinha condições de pagar a academia para os seus 5 filhos, então, o acordo que ele tinha com a família Mubarac era de que, todas as medalhas conquistadas por nós, seus filhos, iriam para a Academia Gonçalves Mubarac. Por esse motivo, meu pai, era pouco divulgado, mesmo sendo nosso professor. O primeiro título que conquistei já como atleta da Academia Pessoa, foi apenas em 2007, com a conquista do paulista e do mundial de jiu-jitsu máster absoluto. Eu e meus irmãos, honramos até o fim, o compromisso assumido por meu pai Odajil com o Sr. Uadi Mubarac”.
Durante 7 anos, Simone Pessoa manteve-se afastada das competições de judô e jiu-jitsu para cuidar exclusivamente do pai que, depois, viera a falecer, em decorrência de complicações do Mal de Alzheimer e Parkinson, deixando um legado bonito e vitorioso no esporte rioclarense. O Sensei Odajil Pessoa faleceu em 2021.
Formando campeões no tatame e na vida
Simone Pessoa lembra com carinho de alguns ex-alunos que hoje se destacam no jiu-jitsu, inclusive como professores. Dentre eles, Leonardo Moraes, por ela descoberto, aos 7 anos de idade, no Colégio Puríssimo e que chegou à seleção brasileira, pelas mãos do professor Marcos Mercadante, de Araras. “Quando o Léo ganhou a seletiva para integrar a seleção brasileira, ele telefonou pra mim pra me dará notícia e eu disse, eu já sabia, Léo, desde quando você tinha 7 anos de idade, que você conseguiria. Além de Leonardo Moraes, a professora Simone Pessoa, se recorda de Júlia Casela, atualmente professora em São Paulo, que, tem como aluno o judoca Thiago Camilo. “Tenho ex-alunos, dando aula nos Estados Unidos e na China, e aqui, em Rio Claro, a maioria dos praticantes de jiu-jitsu passaram pela Academia Pessoa, isso me orgulha muito”.
Planos para o futuro
Depois de competir, vencer e formar campeões de judô e jiu-jitsu, Simone Pessoa revela que hoje, o seu desafio, é se dedicar à área de Defesa Pessoal. “Dedico-me a ensinar profissionais da área de segurança, e me preparei para isso, mesmo quando ainda cuidava de meu pai. Atualmente, sou membro honorário da Associação dos Veteranos do Pelotão de Operações Especiais do Exército. Apresento palestras e seminários e me dedico a cursos de formação de defesa pessoal nas Forças Armadas do Brasil. Aonde vou parar, não sei. Mas, adoro desafios, conhecer e ultrapassar os meus limites e abrir portas, sempre”.
Atenta às novidades
Sempre atenta às novidades, a Profa. Simone Pessoa esteve recentemente no Rio de Janeiro, participando ao lado dos grandes mestres do jiu-jitsu brasileiro, dentre eles, Fernando Guimarães, Marcio dos Santos e Carlson Gracie, do Seminário Five Top Carlson Gracie Team de Jiu-Jitsu e Defesa Pessoal, realizado no Clube Militar, com objetivo de atualizações de técnicas, trocas de experiências e integração da equipe Carlson Gracie de Jiu Jitsu, da qual participa.
A carreira vitoriosa da Profa. Simone Pessoa, no esporte e na área de segurança se baseia em três valores fundamentais: humildade e aprendizado e profissionalismo. “Com humildade, ela destaca, você se permite a aprender e a ensinar e com profissionalismo, você transfere aprendizado e experiências com responsabilidade e competência”.
O esporte educa e forma campeões, no tatame e, na vida, também. E Simone Pessoa é um exemplo disso.
Por Geraldo Costa Jr.