O homem não fez nenhuma faculdade, nunca saiu da Inglaterra e escreveu com tamanha propriedade e genialidade sobre a Alemanha, a Itália, a Dinamarca, A França, Espanha.
Como poderia, um homem de hábitos simples escrever com tamanha profundidade sobre as relações humanas, a ponto de mostrar-nos o que de mais íntimo há em nós? Mais do que qualquer filósofo, sociólogo, antropólogo ou psicólogo, em cada um dos seus personagens está o ser humano nu, com suas justificativas, pavores e diálogos interiores. Talvez não ser universitário, inserido na burocracia acadêmica, é que justamente explique sua originalidade.
Um vilão em uma peça shakespeariana não é quem pensa e faz o mal 24 horas ao dia, o tempo todo. Mais real, ele tem seus conflitos internos, justificativas. Do mesmo modo, que um herói não é simplesmente bom. Não é de se admirar, afinal a realidade é bem mais complexa não é mesmo, querido leitor.
Muitas vezes em um único dia vamos de vilão a herói várias vezes em nosso lamaçal doméstico.
Como viver sem conhecer Hamlet? São poucas as criaturas racionais nesta Terra que não conhecem pelo menos a célebre frase do príncipe da Dinamarca enquanto observa o crânio de seu pai: “Ser ou não ser, eis a questão”. O drama da existência humana está resumido aí, nessa simples e profunda sentença.
O que dizer então do amor proibido, e tão atual de Romeu e Julieta?
Se por um lado, a obra de William Shakespeare é tão importante, fundadora do nosso modo de pensar no Ocidente, por outro a sua vida pessoal é cercada de mistérios e reclusão. Por mais que pesquisadores e biógrafos se debrucem sobre sua existência na vida cotidiana da Inglaterra entre 1564 e 1616, há sempre mais e mais para se descobrir.
O bardo inglês, como ficou conhecido, era alguém de hábitos comuns, ao que parece, já famoso e consagrado em sua época, mas que fazia questão de viver longe das pompas e holofotes, ou melhor, das tochas da bajulação.
Shakespeare nasceu num dia 23 de abril, de 1564, e morreu também num dia 23 abril, de 1616. Católico ou anglicano, hetero ou homossexual, ninguém ainda sabe e, na verdade, pouco acrescentaria em sua enorme importância. Teve três filhos com a esposa a quem pouco contato teve, pois morou em Londres e só depois que se aposentou veio para Stratford sua terra natal e onde veio a falecer.
Seu túmulo em Stratford também é cercado de mistérios. Dizem que quem mexer em seu túmulo será alvo de uma maldição e que junto com seus restos mortais, sobre o seu peito está sua trigésima oitava e inédita peça teatral.
Harold Bloom, famoso crítico americano e autor do livro Shakespeare: A Invenção do Humano, diz que o dramaturgo inglês entendia a alma humana como nenhum outro autor jamais entendeu. Shakespeare escreveu os maiores clássicos do teatro e criou uma galeria de personagens que fascinam a humanidade mesmo séculos após sua morte. Tanto que tudo o que é produzido em literatura e artes dramáticas ate hoje tem muita influência sua.
A maior parte dos críticos literários da atualidade concordam que continuamos vivendo sob o impacto das obras, do olhar de Shakespeare. Gênio é pouco! Shakespeare era um apaixonado, morto de amores pelo ser humano.
Por Marcelo Lapola colaborador é jornalista e pós-graduando em Física pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica ) – marcelo.lapola@gmail.com)