“Eu não queria, mas preciso.” Esse é o lema que dita a nossa vida. Vamos vivendo, ou sobrevivendo com o choque entre o desejo de individualidade e as expectativas da sociedade. E muitas vezes o custo psicológico disso é brutal. Basta ver a quantidade de pessoas padecendo de síndrome do pânico, depressão, compulsões das mais variadas e ansiedade.
A gente se cobra demais. Se você for seguir tudo o que nos aconselham as pessoas, a mídia, os cientistas, religiosos, nutricionistas, o dia teria de ter umas 35 horas, no mínimo. Nos forçamos a ser o ideal de um super-herói ou super-heroína.
Depois de trabalhar umas oito horas no dia, ainda tem que fazer exercícios, comer pouco e nunca aquilo que deseja comer, cuidar da aparência, ler, engatar um novo estudo, estar com os filhos, ser esposa, marido, filho também, não esquecer dos amigos, economizar dinheiro e reprimir ao máximo todos os seus desejos mais íntimos. Adaptar ou se preciso até mesmo matar seus sonhos em prol da busca por algo impalpável chamado conforto, cuidar do seu carro, a prestação que vaivencer, a casa financiada o mês que é pensado apenas financeiramente, mecanicamente, enquanto a vida passa.
E vamos sempre assim, nos escondendo atrás da falta de tempo, com questões mais fundamentais sobre nossa vida colocadas em um quartoescuro da mente.
Nos ditam até como devemos sentir prazer. “Somos de carne e osso, mas somos obrigados a viver como se fôssemos de ferro”. Para Freud, em seu seminal livro “O Mal-estar na Civilização”, para o bem da civilização, a pessoa é oprimida em suas pulsões e vive em mal-estar.
Em nosso modo Ocidental de viver, alicerçado muito na culpa judaico-cristã, parece que sempre estamos em dívida conosco, com a sociedade, com o mundo e com Deus. E tais angústias servem muito bem para o funcionamento do sistema.
“Você tem que” é a ordem que ecoa dentro da gente e molda a realidade. E é tudo muito contraditório. É impossível seguir tudo o que nos ditam. Deixar-se seduzir pelas receitas banais e a falsa inteligência das fórmulas do “bem viver” é a receita para a tragédia pessoal.
É muito mais fácil seguir receitas prontas de livros de autoajuda, de palestras, coachs, gurus, do que ir em busca de sua singularidade, daquilo que de fato faz vibrar o coração.
Na ânsia de sermos aceitos, desejados pelos outros, muitas vezes deixamos nossa essência de lado. A receita é simples: não há receitas! Você tem que ir em busca do que te dá significado. Porque não há nada pior do que ser escravo da expectativa dos outros. Ela é que gera a maioria das suas autoimposições.
O melhor antídoto contra o que dita os “você tem que” é agir mais próximo do seu genuíno desejo. Arriscar-se a angústia de exercer sua própria vida e diante do caminho que decidiu seguir, pôr em prática aquilo que o escritor Carlos Castañeda ouviu do mestre Don Juan: “Examine cada caminho com muito cuidado e deliberação. Tente-o muitas vezes, tanto quanto julgar necessário. Só então pergunte a você mesmo, sozinho, uma coisa…Este caminho tem coração? Se tem, o caminho é bom, se não tem, ele não lhe serve. Um caminho é só um caminho.”