“A vida só é possível reinventada”, diz Cecília Meirelles em um de seus mais belos poemas. E para se reinventar é preciso assumir riscos, e se responsabilizar por eles.
Tendemos a rejeitar aquilo que nos identifica, o que nos coloca em frente ao espelho.
A época em que vivemos é assustadora para quem se prende ao medo de arriscar, pois o mundo nos cobra isso. E esse espírito de uma época nos coloca frente a nossos desejos como nunca. Ah, a vida! Sim, essa sua vida real, cotidiana vivida dia a dia, cada vez mais corrida não é? O tempo parece voar e um ano já não passa do mesmo jeito que antigamente.
Isso porque sempre estamos correndo e sem perceber o dia que passa vamos seguindo sempre pensando no que tem para fazer amanhã, o compromisso, a próxima reunião. Frente a um turbilhão de atividades muitas vezes nos damos conta de que alguns sonhos poder ter ficado para trás ou, o foram todos adaptados em meio a esse esconderijo que aprendemos a chamar de rotina.
É incrível como o mundo está cheio de gente que depois de um tempo fica idealizando o passado pensando em tudo o que queria ser e não foi.
Engenheiros que não se formaram, artistas reprimidos, aventureiros destemidos que não terminaram sua viagem e muitos navegantes que jogaram suas âncoras antes mesmo de partir e por medo, insegurança ou outra coisa qualquer viram essas âncoras se enferrujarem no fundo de um mar de auto-justificativas.
Sem ideais a seguir, nem regras de comportamento preestabelecidas, há muita gente que se assusta com o mundo “pós-pós-moderno”. Para alguns, presos ao mundo de hierarquia vertical da era industrial de antigamente, não há adaptação a esse mundo horizontal.
Vivemos já há um bom tempo a era pós-industrial. Nela, o fato de responsabilizarmos os outros pelos nossos fracassos perdeu a força.
Estamos numa era sem limites. Sem limites de distância, com a internet, de perspectiva de cura, com os avanços da medicina, de estética, com o poder das cirurgias plásticas e tratamentos, entre outras coisas.
Em desacordo com esse aparente alargamento dos limites de possibilidades no mundo, não há uma equivalência de felicidade. Nesse tempo sem padrões, o motivo para tanta angústia é porque cabe a cada um de nós estabelecer o exercício do próprio limite. Não há mais a figura da pessoa que vai te pegar pelo braço e dizer que caminho deve seguir.
Mas, ao que parece, nos confortamos com o triste rótulo do comum. Para muitos, sair da zona de conforto e arriscar aquilo que deseja é mais difícil do que parece. Precisamos ir em busca daquilo que nos diferencia de “todo mundo”. Porque quem se conforta em ser igual a todo mundo está numa trincheira, lá no passado, naquele mundo padronizado.
O início de algo chamado felicidade talvez aconteça para quem se reinventa e vai em busca da sua singularidade, sem esperar alguém que cuide de você. Felicidade é conquistada e não fruto de merecimento.