Época de pressões.
Rodeado parafernálias tecnológicas que prometem facilitar a vida, vamos meio tortos caminhando em meio aos outdoors e anúncios gigantescos que atiram contra nossa consciência. Compre, fume, cheire, sinta, seja, determinam imperativos. Tentar não ser vítima dessa “Matrix” pode ser perigoso. Há muitos olhos a nos vigiar em silêncio inquisidor.
Para o medo de assalto, alarmes, câmeras, blindagens em automóveis, condomínios e suas cercas. Para a depressão, remédios de pseudofelicidade que curam os sintomas e não a causa da dor em si. Para a impotência, comprimidos azuis que anunciam a nova revolução sexual e matam muitos distintos senhores do coração.
O repertório de soluções apresentados é infinito nesse mercado de ilusões exageradas. Pânico, depressão, stress, que já é doença que dá até em criança, tratada em consultórios de caríssimos e competentes psicoterapeutas.
Vagamos rumo aos nossos “projetos de vida” cada vez mais impacientes. Não há tempo para o toque, o bom papo e a ajuda mútua. O amigo, colega ou conhecido que insiste em te parar na rua para pedir um emprego, uma ajuda, ou mesmo uma boa conversa é visto como um chato, um mala. Não há tempo. A fila do banco, o relógio que comprei e escondi para não ser roubado, o laptop que esfria meu estômago a cada vez que passeia comigo pelas ruas da cidade me fazendo perguntar em que esquina irão me apontar uma arma para levá-lo.
No sinal fechado, a multidão de vendedores, malabaristas, “paus de arara, passistas, palhaços, marcianos, canibais e lírios pirados” tentando achar uma brecha nos vidros fechados dos carros para escapar do abismo que os traga.
Vamos em direção às nossas casas ou trabalhos fingindo que não somos culpados de nada.
Seguindo o fluxo, a pé ou de carro, olhando o monstrengo gigante que nos ensinaram a chamar de cidade, deixamos cair gota a gota nossa capacidade de indignação.
As obrigações do dia a dia nos fazem quase autômatos sem vontades, apenas com desejos de consumo. São os desejos empacotados e prontos que a publicidade nos vende. São mais fáceis. Carecemos de vontade. Vontade de lutar para que haja mais espaço e não para roubar o espaço do outro. Pobre de nós. Temos, ao fundo, sempre uma espécie de sinfonia de cachorros vira-latas, o som das sarjetas que fazem tantas vítimas hoje. Vivemos com medo.
Olhar para dentro talvez seja a solução. Enxergar o mundo com outros olhos, mais humanos e sinceros, sem máscaras. Contemplar o ser humano nu, “um cão sem plumas” pode fazer efeito. Sem as baboseiras esotéricas da indústria de fazer dinheiro. Bem que nos dizia Clarice em “A Hora da Estrela”: “a vida é um soco no estômago”. É preciso disposição e coragem para essa “dificílima, dangerosíssima viagem de si a si mesmo”, como bem dizia o bom Drummond.
Por Marcelo Lapola