O movimento Janeiro Branco foi criado no Brasil em 2014 e visa chamar a atenção para as questões relacionadas à saúde mental e emocional das pessoas. O psicólogo Leonardo Abrahão, idealizador da Campanha Janeiro Branco, diz que são normais os sentimentos de insegurança, tristeza, angústia e ansiedade, principalmente neste período de pandemia. Mas ele alerta que é importante perceber quando essas reações estão atrapalhando o dia a dia e procurar ajuda.
Nesta edição do “Janeiro Branco”, a pandemia ganhou destaque nas discussões, já que, segundo os especialistas, muitas pessoas tiveram sim sua saúde afetada e não só por causa do vírus, mas a saúde da mente. “A saúde mental das pessoas de uma maneira geral piorou pois, além de uma grande parte da população ficar sem as referências de cuidado, rede sócio afetiva, trocas sociais, isto é, sem a convivência com avós, amigos, vizinhos, colegas nas escolas etc; todos tivemos uma série de preocupações, que nunca tínhamos nos confrontado antes, preocupações estas que trazem muita angústia”, destaca a Psicóloga clínica Profa. Dra. Lúcia Helena Hebling Almeida que também é autora de diversos artigos e capítulos de livros. Doutora em Saúde Mental – FCM – UNICAMP e Mestre em Ciências da Motricidade – UNESP.
Ao Diário do Rio Claro, a especialista salienta quais são os fatores que podem afetar a saúde mental. “Tudo o que tivemos (e ainda vamos ter) que nos adaptar! Por exemplo, a necessidade dos novos protocolos de biossegurança – uso de máscara, higienização constante das mãos, distanciamento social; medo do risco de ser infectado e infectar outros; sintomas comuns de outros problemas (febre, por exemplo) serem confundidos com COVID; falta de equipamentos de proteção individual em alguns lugares – especialmente nas camadas mais carentes da população. E o desrespeito em não seguir os protocolos, aglomerar, festas enormes levando a COVID para dentro de casa. Fora isso, a polarização de opiniões que vivemos, as fake news banalizando e diminuindo a gravidade da COVID 19, tudo isso gerou (e ainda gera erroneamente) uma desconfiança no processo de gestão e coordenação dos protocolos de biossegurança, o que aumenta ainda mais a angústia e ansiedade”, observa.
Tudo isso refletiu ainda mais para quem já sofre de uma depressão, síndrome do pânico ou ansiedade. “Há uma piora nos quadros de depressão pelo isolamento social em alguns casos; fez aumentar o problemas de insônia e distúrbios alimentares – a maioria das pessoas engordou pelo isolamento, falta de atividade física e ficar mais em casa leva a comer mais; em outros casos, o convívio familiar intenso fez com que se ‘revelasse’ problemas conjugais e/ou familiares – no relacionamento entre pais e filhos, que não eram devidamente percebidos – a famosa sujeira embaixo do tapete. Isso levou casais a se separarem, ou a buscarem ajuda terapêutica, e mesmo pais ao perceberem que seus filhos demandavam mais atenção e muitas vezes, tratamento psicológico. No caso de pânico e ansiedade (o pânico é um extremo da ansiedade, podemos assim dizer), o medo piora muito os sintomas, principalmente os problemas com agitação, taquicardia, falta de ar, sudorese, não conseguir parar de pensar, etc”, revela a psicóloga.
SAÚDE MENTAL DAS CRIANÇAS
A profissional faz uma alerta para os cuidados com as crianças. “As crianças estão sofrendo muito com a COVID, e devemos estar atentos a elas. Prestar atenção aos gestos, postura, tensão corporal, deixar de comer, ou comer em demasia, pesadelos constantes, agitação diurna e/ou noturna, não dormir, enurese, são sinais que a criança pode estar extremamente angustiada e requer ajuda de um profissional da psicologia”, ressalta.
PENSAR NO PRÓXIMO
“Um aspecto extremamente importante! Estamos vivendo uma falta de empatia, há uma insensibilidade, uma inadequação nas pessoas, uma falta de consideração pelo outro e pela dor do outro. Especialmente pelas pessoas enlutadas, que perderam parentes, amigos pela COVID 19, na maior sensação de desamparo, angústia e solidão do mundo. Parece que uma parte das pessoas não pensa sobre isso, não consegue se colocar no lugar do outro. Precisamos voltar a respeitar o direito coletivo, que se sobrepõe ao individual numa crise sanitária e psicológica coletiva. É como numa guerra. Porém o nosso inimigo é “invisível”. Esta insensibilidade, além do luto, tem gerado revolta e indignação nas pessoas que sofrem a perda para a COVID 19, o que é plenamente compreensível.
É preciso ficar atento a sintomas, caso perceba algum comportamento diferente em você mesmo ou em pessoas próximas. A psicóloga orienta. “De alguma maneira estar presente conosco mesmos por inteiro, atento aos sinais do nosso corpo – técnicas de relaxamento e meditação melhoram sintomas de depressão e ansiedade. Mas, não espere que as coisas piorem, procure apoio psicológico, ajuda profissional. A vacina saiu agora, mas teremos no mínimo, 6 meses pela frente. Um janeiro e fevereiro amargos, em consequência das festas e aglomerações de final de ano. E os protocolos de biossegurança – máscara, higienização das mãos e distanciamento social devem continuar”, alerta a especialista.
Por Janaina Moro / Foto: Diário do Rio Claro