Terminei meu artigo anterior, citando um amigo Procurador da República onde dizia que “viveremos vários anos sob instabilidade institucional”, antes da divulgação e lançamento do livro do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. Sería apenas mais um livro, não fossem as entrevistas dadas pelo autor, declarando que tentou matar o ministro do STF Gilmar Mendes, dentro do Tribunal.
As palavras têm sentido e poder. Quando Janot afirma que não consumou a tentativa de assassinato sem saber exatamente por que, caracteriza que foi por razões alheias à sua vontade. Em nenhum momento disse que desistiu ou se arrependeu. O Código Penal trata disso com clareza.
Estivéssemos vivendo sob tranquilidade institucional, este caso seria amplamente repudiado. Mas não foi o que vimos por aí. Muita gente afirmando nas redes sociais que foi uma pena não ter acabado em morte e, dias depois, um Procurador da Fazenda Nacional, tentou matar, com uma faca, uma juíza na sede do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em plena avenida Paulista. Seguranças relataram que o procurador afirmou que deveria ter entrado armado “para fazer o que o Janot deixou de fazer”.
Basta um soldado e um cabo para fechar o STF, disse o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, pré-indicado para a embaixada do Brasil em Washington nos Estados Unidos. Isso é música para os ouvidos de muitos e este é o drama em que vivemos. O que mais vemos nas redes sociais são os “especialistas em tudo” urrando sobre temas importantes sem ao menos tomar contato mais próximo com o assunto. Uma proliferação de influenciadores digitais berrando contra tudo e contra todos, manipulando informações para agradar um povo farto de desmandos e injustiças.
Muitos desses influenciadores remunerados com dinheiro público que se dizem cristãos e conservadores, multiplicam pensamentos obscurantistas e revolucionários. Encontram uma massa de propagação entre os fundamentalistas religiosos e os vitoriosos das últimas eleições, muitos dos quais foram adeptos e apoiadores do governo lulopetista. Em muitas cidades, essas forças começam a disputar espaços nas legendas para as campanhas municipais.
Críticas podem e devem ser feitas às classes políticas do Executivo e do Legislativo e também ao Judiciário e ao Ministério Público. De todos os brasileiros desempregados, desalentados e abaixo da linha da pobreza, podemos dizer que a totalidade estava no setor privado. Onde vemos férias de sessenta dias por ano, licença prêmio, estabilidade, aposentadoria com vencimentos totais como punição por falta grave, possibilidade de sair candidato e continuar recebendo salário, dentre outras vantagens? Sim, no poder público.
Não gosto de afirmar assim, mas a má notícia é que não nos mostramos, no geral, preparados e interessados em trabalhar esses assuntos de forma civilizada. Está mais fácil encontrar público e eleitores entre os que preferem repetir frases feitas e de efeito. Onde sobra emoção, falta razão.