Boletim divulgado na tarde desta quinta-feira (17) pela Secretaria Municipal de Saúde de Rio Claro registra a primeira morte de criança no município por covid-19. O boletim registra ainda o falecimento de um homem e uma mulher, totalizando 128 óbitos nesta pandemia.
De acordo com a Secretaria de Saúde, a criança foi vítima de Síndrome Multissistêmica Inflamatória Pediátrica (PIMS, na sigla em inglês), associada à Covid-19. Essa síndrome, conforme explica a médica infectologista Suzi Berbert de Souza, é rara e ocorre três a quatro semanas após a infecção por coronavírus (Sars-CoV-2), em crianças maiores de cinco anos de idade e pode desencadear alterações cardíacas graves e óbito.
A criança que faleceu em Rio Claro contraiu covid sem apresentar sintomas. Quando a Síndrome Inflamatória se manifestou foram coletadas amostras para exame que, após seu falecimento, confirmou que ela havia sido contaminada pelo coronavírus há semanas.
O boletim desta quinta-feira registra um total de 4.451 casos de coronavírus em Rio Claro, sendo 275 pessoas na faixa etária de 10 a 20 anos e 47 entre zero e nove anos. O município tem 38 pessoas hospitalizadas, sendo 24 em leitos públicos e 14 em leitos particulares. O número de recuperados é 4.272 pacientes.

Estudo mostra relação entre o novo coronavírus e síndrome em crianças
Agência Brasil
Após analisar o caso de uma menina de 11 anos de idade que contraiu covid-19 e foi a óbito, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) descobriram que o coronavírus chegou a atingir células cardíacas. O resultado do estudo foi publicado no periódico The Lancet Child & Adolescent Health, associando, pela primeira vez, a infecção pelo vírus ao quadro de síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P), que pode acometer vários órgãos, tanto em crianças como em adolescentes.
Conforme relatam os cientistas, integrantes do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP, a criança não tinha doenças preexistentes e, mesmo assim, desenvolveu um quadro grave de saúde. Apenas 28 horas depois de ter sido internada em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), apresentou disfunção cardíaca e choque cardiogênico, precisando de ventilação mecânica pulmonar e medicações para estabilizar seu sistema cardiovascular. A situação, classifica a médica Juliana Ferranti, que participou do estudo, é “muito rara dentro da pediatria”.
A equipe médica que atendeu a paciente realizou exames de sangue, radiografia, tomografia de tórax, eletrocardiograma e ecocardiograma, que confirmaram a presença de um processo inflamatório e o comprometimento severo do coração. Após o falecimento da criança, foram feitas uma análise microscópica de tecidos de diversos órgãos do corpo e uma pesquisa de RNA viral em pulmões e coração. Essa segunda bateria de exames confirmou a relação entre covid-19 e a SIM-P, revelando que a menina teve de fato um quadro leve de pneumonia, causada pelo vírus Sars-CoV-2, e a presença de microtrombose pulmonar. Concluiu-se também que a causa de morte foi a inflamação [miocardite] do coração, que chegou ao estágio de necrose e perda de fibras cardíacas.
Segundo a professora Marisa Dolhnikoff, uma das autoras do artigo, o que se observa por outras pesquisas é que a maioria das crianças com SIM-P consegue se recuperar da doença, se tiverem o devido tratamento. Ela acrescenta, porém, que o trabalho alerta para a possibilidade de que sequelas cardíacas remanesçam, ainda que recebam cuidados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já vem alertando sobre a possibilidade de haver ligação entre a covid-19 e a SIM-P, tema que chegou a ser tratado em seminários, por especialistas da Espanha. No início deste mês, o Ministério da Saúde emitiu nota em que destaca o aviso da OMS e informa que tem monitorado casos da síndrome em crianças e adolescentes com idade entre 7 meses e 16 anos. Até julho, 71 casos foram registrados em quatro estados, sendo 29 no Ceará, 22 no Rio de Janeiro, 18 no Pará e 2 no Piauí, além de três óbitos no Rio de Janeiro.