Em comemoração ao Dia da Indústria, o Centenário entrevistou André Rebelo, assessor de Assuntos Estratégicos da Presidência da Fiesp, que comentou sobre a situação do setor.
Para ele, reformas são necessárias e existe muito o que celebrar sobre a data comemomrativa. Veja trechos da entrevista.
l Há motivos para comemorar o Dia da Indústria?
André Rebelo: Claro que sim, existem muitos motivos para se comemorar o dia da indústria. Apesar da crise econômica que passamos, a indústria brasileira segue firme, responsável por algo em torno de 25% do PIB nacional, e mantendo a liderança neste setor em toda a América Latina.
É preciso lembrar que, dentre os setores econômicos, a indústria é o setor que possui a maior produtividade (medida pela relação entre o total do valor adicionado e da mão de obra empregada), produz os bens de maior valor agregado, paga os maiores salários na média, e é o setor que mais contribui com a arrecadação de impostos e geração de empregos em outros setores. A indústria nacional é um tesouro inestimável para o país, para a economia e para as pessoas em geral.
l Qual a expectativa da indústria para o segundo semestre?
André Rebelo: Apesar de estarmos tendo um início de ano duro, estamos otimistas com relação ao segundo semestre, com expectativa de retomada do crescimento econômico, recuperação do investimento produtivo e melhora expressiva no mercado de trabalho.
As empresas brasileiras estão com diversos planos de investimento represados devido às incertezas decorrentes da crise fiscal e econômica que o país atravessa. Os empresários estão no aguardo; o desajuste fiscal precisa ser equacionado para que haja previsibilidade para voltarmos a investir e gerar empregos.
A aprovação de medidas essenciais para a retomada do crescimento econômico, como a reforma da previdência, prevista para ser aprovada no início do segundo semestre, certamente vai destravar os investimentos represados e impulsionar o crescimento econômico, a produção industrial e a oferta de emprego no setor. Além disso, aguardamos que a aprovação da reforma tributária também seja breve e seus impactos possam ser verificados ainda no segundo semestre deste ano.
O cenário pode ser ainda melhor se aliado a estas medidas que têm grande impacto a médio e longo prazo, o governo avançar também em uma agenda que dê folego à atividade econômica no curto prazo. Medidas que combatam os altos juros cobrados pelos bancos poderiam destravar o crédito no país e contribuiriam enormemente para a retomada do crescimento a curto prazo.
l Quais são as principais dificuldades do setor atualmente e qual a solução prevista para mudar o cenário?
André Rebelo: Além das dificuldades conjunturais impostas pela crise econômica e fiscal, o setor industrial brasileiro ainda enfrenta diversos entraves estruturais que o tornam artificialmente menos competitivo do que seus pares no exterior. Podemos resumir estes entraves no conceito de Custo Brasil.
Insegurança jurídica, excesso de burocracia, altos impostos (com a carga tributária crescendo muito nestas últimas décadas), taxas de juros elevadíssimas que inibem investimentos produtivos, sobrevalorização cambial e déficit de infraestrutura são os principais fatores que fazem com que a produção nacional enfrente custos maiores do que os verificados no restante do mundo.
Para se ter uma ideia, entre 2005 e 2017, por conta da burocracia, as empresas brasileiras gastaram em média 2.507 homem/hora por ano para pagar tributos contra 231 homem/hora na média do mundo. Em 2017, apenas a indústria gastou R$ 37 bilhões com burocracia tributária, equivalente a 1,2% do seu faturamento, a 0,6% do PIB do país ou a 5,5% do PIB do setor.
Esse custo com burocracia é, em média, 9,3 vezes mais elevado que dos nossos 15 principais parceiros comerciais. Também temos taxas de juros e spreads bancários elevadíssimos em comparação à média internacional. De 2011 a 2017, o spread bancário médio no Brasil foi de 18% a.a., muito superior à verificada de nossos parceiros comerciais no mesmo período.
l Em comparação com anos anteriores, a indústria brasileira teve crescimento?
André Rebelo: O indicador de produção industrial produzido pelo IBGE mostra que a produção da indústria de transformação cresceu 0,4% no período entre janeiro e março deste ano. É um crescimento modesto, mas, ainda assim, a tendência é melhor do que a verificada no mesmo período de 2018, quando a produção industrial havia se retraído 0,1%, e de 2017, quando a produção apresentou retração de 0,2% entre estes meses.
Este não é um cenário confortável, mas indica alguma melhora após longo período de retração contínua entre os meses de julho e dezembro do ano passado. Estamos confiantes que o andamento das pautas econômicas no congresso irá impactar de forma muito positiva as expectativas dos agentes econômicos e impulsionar a produção no setor.