Azia, queimação e dor torácica. Esses são alguns dos sintomas do refluxo. Atualmente, a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), afeta cerca de 12% da população, o que corresponde a aproximadamente 20 milhões de brasileiros. Mesmo fazendo parte da vida de um grande número de pessoas, somente cerca de 30% dos pacientes afetados pela doença, procuram assistência médica.
Causada por diversos fatores como a má alimentação, obesidade, diabetes, ansiedade, hérnia de hiato, tabagismo, alcoolismo e gravidez, a doença muitas vezes é ignorada por seus portadores, que abusam das automedicações, e não se dão conta de que as complicações ocasionadas pelo distúrbio podem até ser fatais.
Segundo o médico Henrique Eloy, especialista em Endoscopia Digestiva e Gastroenterologia, a doença pode ser definida como uma disfunção digestiva, no qual os ácidos presentes no estômago voltam ao esôfago e não seguem o fluxo habitual. “O movimento contrário dos líquidos gástricos, gera ‘queimaduras’ nas paredes do esôfago, que por sua vez, provoca além dos sintomas citados acima, a disfagia (dificuldade para engolir), náusea, tosse seca, inchaço na garganta, nariz entupido e rouquidão”, explica.
Dependendo da quantidade de fluido que segue o caminho contrário ao estômago e da altura atingida pelo mesmo, o refluxo pode causar problemas mais complexos como o agravamento da asma, rinite, sinusite, obstrução nasal, sensação de entupimento e dor nos ouvidos, sensibilidade e cáries nos dentes, e até distúrbios do sono. Caso o suco gástrico suba até a região da garganta e atinja a traqueia, o paciente afetado pode desenvolver uma fibrose ou mesmo pneumonia.
Henrique Eloy esclarece que quando uma pessoa come, o alimento percorre o esôfago até chegar ao estômago e lá o anel muscular intitulado esfíncter esofágico inferior, separa o esôfago do estômago e, apenas se abre quando engolimos, permitindo a entrada dos alimentos no estômago. “Durante o restante do processo, o esfíncter se mantém contraído para evitar que os alimentos e o ácido do estômago recuem para o esôfago”, explica.
De acordo com o médico, o refluxo também pode ser provocado pela ingestão de alimentos cafeinados, gordurosos, picantes, e bebidas gaseificadas ou alcóolicas. “O hábito de comer demais e se deitar após as refeições são implicadores diretos para a ocorrência do refluxo. Já no caso de pessoas obesas, a pressão exercida pelo excesso de gordura no abdômen sobre o estômago, faz com que o anel muscular do esfíncter seja obrigado a abrir e assim o conteúdo gástrico fica livre para voltar ao esôfago”, comenta Henrique Eloy.
A identificação e diagnóstico da doença do refluxo podem ser feitos por meio de diversos métodos, dentre eles, a anamnese (entrevista em que o paciente relembra todos os fatos que o relaciona a doença), o raio-X, a endoscopia e a pHmetria. Segundo Henrique Eloy, o tratamento do refluxo inclui a mudança na dieta, a indicação de inibidores da produção do ácido e, até a realização de cirurgias. “Acredito que uma alimentação baseada em frutas, verduras, grãos e oleaginosas, podem ajudar a amenizar e tratar a doença em seu estágio mais brando. Já em casos mais graves se indica o procedimento cirúrgico”, ressalta.
Eloy indica que alternativas não cirúrgicas estão em avaliação, como alguns procedimentos endoscópicos, como é o caso do Sistema Stretta. “O equipamento é introduzido pela boca do paciente e percorre um trajeto até chegar ao esôfago, onde emite ondas de radiofrequência na musculatura da porção distal do esôfago. As ondas proporcionam a remodelação e alargamento do esôfago, e diminui os sintomas do refluxo”, finaliza.