Uma das palavras de ordem hoje é interatividade.
Mas erra redondamente quem pensa que nós queremos de fato interagir. Nesse nosso tempo de individualização furiosa, o que as pessoas querem é sossego. O grande sucesso dos livros e palestras de autoajuda ao redor do planeta é um retrato meio irônico disso.
Com a promessa de que você não precisa de ninguém, a não ser você mesmo para se “ajudar”, o que se pinta é um quadro de homens e mulheres deixados à própria sorte com seus sentidos e a falsa sensação de que não precisamos de ninguém para sermos felizes.
Os sentimentos são descartados com muita facilidade e a relação com o outro acaba por ficar numa superfície muito rasa.
O surgimento e popularização das redes sociais na internet têm mostrado, na medida em que ganham cada vez mais seguidores, que por trás da nossa busca virtual pela ligação com outras pessoas está escondida uma desconfiança de nos ligarmos permanentemente a alguém.
Já notou que muitas pessoas já não têm a mesma paciência com quem fala um pouco mais e gosta de uma conversa um pouco mais longa, seja num encontro casual na rua ou mesmo numa mesa de bar? Isso é ainda mais perceptível nos mais jovens.
Pessoas saem juntas para comer ou beber, mas já não estão mais juntas. Muitas delas estão ali mexendo em seus celulares, acessando freneticamente o Facebook, o Twitter ou qualquer outro serviço de Internet semelhante. Já não há mais lá nem aqui, como dizia Gertrude Stein.
Ao mesmo tempo em que as relações se tornam “líquidas”, como classifica o sociólogo polonês Zigmunt Bauman em seu livro Amor Líquido, estamos ansiosos pela segurança de um convívio, por uma mão amiga que venha nos ajudar em um momento de aflição.
Porém, na mesma medida dessa ansiedade, vivemos com medo de nos ligar mais profundamente a alguém. Há o temor de que, com um relacionamento, digamos, mais real, haja compromissos e responsabilidades, os quais não suportaríamos.
“A vida é a arte do encontro. Embora haja tantos desencontros pela vida.” Subvertendo o belo verso de Vinícius de Moraes, tememos cada vez mais os desencontros ocasionados pelos encontros da vida. Há uma angústia meio covarde em assumir a responsabilidade dos relacionamentos pessoais.
Assim fica mais fácil relacionar-se virtualmente, com muitas camadas de separação. Numa rede social não preciso dizer por que estou deixando de conversar com alguém. Não preciso passar pelo trauma de dizer “olha, não vou com a sua cara, por isso não quero mais papo”. Basta eu deletar ou bloquear aquela pessoa, na mesma velocidade com que um dia adicionei.
Nos mandam estar conectados. Mas conectados a quê?
Relações reais, amorosas ou de amizade implicam de vez em quando em dor e decepções. Mas a ordem parece ser evitar a dor. Com isso, se esvai o poder de se fortalecer emocionalmente. Estamos muito frágeis, perdidos em redes, deslumbrados com um mecanismo tecnológico, cujo futuro nem os maiores especialistas ainda sabem prever.
Estamos na frente do computador, conectados à Internet com um fascínio meio burro. Não muito diferente dos índios, que se encantaram com os espelhinhos dos primeiros exploradores que chegaram à América sem se darem conta do novo mundo que se abria a sua frente.
E acontece porque muitos de seus sites atendem justamente a nossa demanda por um individualismo extremo. Não queremos interagir. Queremos que criem, empacotem e nos entreguem tudo pronto. Se for algo em que o indivíduo tenha o controle absoluto, bingo.
Sim, queremos nos relacionar. Mas o desejo íntimo é que esses relacionamentos sejam bem frouxos, para que possamos escapar ao menor sinal de dor.