Caetano Veloso, Jorge Amado, Dorival Caymmi, Ariano Suassuna, Gilberto Gil, Graciliano Ramos, Luiz Gonzaga.
Eis alguns nomes de extrema relevância para a cultura do Brasil e para o país num âmbito geral, indiscutivelmente. Em comum, o fato de serem nordestinos. Portanto, inegável a importância desta região. E como não fazer menção às belezas naturais, que atraem milhares e milhares de pessoas às inúmeras cidades nordestinas, assim como à aprazível culinária, sem contar a infinda riqueza arquitetônica.
Difícil não fazer alusão ao povo nordestino que, a despeito das mazelas – impossível omiti-las – que há inúmeras décadas assolam aquelas terras, se notabiliza, também, pelo riso fácil, pela bravura, pela perseverança. Mas, por outro lado, é sabido que muitos nordestinos, devido às condições precárias e objetivando uma vida melhor em todos as aspectos, procuram outras regiões do país a fim de, junto à família, obter um lugar ao sol. São Paulo, desde o século passado, é um dos principais destinos.
Maria de Mello Silva de Oliveira (35) veio do Ceará para Rio Claro há 29 anos para ter uma melhor qualidade de vida.
NO CEARÁ
Segundo Maria, as coisas em seu estado de origem eram bem difíceis. “Nós passávamos muita necessidade e o acesso à escola, a médico, era muito longe. Caso alguém ficasse doente, tinha que sair de madrugada e voltava somente à noite”, relembra.
EM RIO CLARO
Ela garante que, na Cidade Azul, encontrou uma situação bem melhor. A atendente diz que em Rio Claro obteve conforto, saúde, transporte próprio e educação. “Hoje, nós vivemos da forma que sempre sonhamos. E temos também casa própria. Não nos falta absolutamente nada”, garante.
EXTREMISMO E PRECONCEITO
“Essa onda de intolerância contra os nordestinos é devido à falta de informação. Porque muitos criticam sem saber o que é viver no Nordeste. Eu, graças a Deus, nunca sofri nenhum tipo de preconceito por ser nordestina. Ao contrário: sempre fui muito bem acolhida”, assevera.
REALIZAÇÃO
Maria diz que nesses 29 anos que reside em Rio Claro, tornou-se uma mulher realizada, pois se orgulha muito por ser nordestina, uma vez que sempre trabalhou e correu atrás dos seus objetivos com muita honestidade e humildade. “Através de todo o meu esforço e dedicação, hoje tenho a minha casa própria, tenho um emprego abençoado e, o mais importante: tenho uma família estruturada e nunca me faltou nada”, finaliza.
Fernando Lima da Silva, ou Fernando do Nordeste, como é mais conhecido, de 49 anos, deixou Pernambuco há 14 e escolheu Rio Claro para reconstruir a sua vida.
OS MOTIVOS
De acordo com Silva, na realidade, foram várias as razões. Porém, a principal foi constatar que a sua permanência em Pernambuco poderia prejudicar a vida de sua família. “Principalmente com os estudos, porque tenho três filhas e percebi que lá as oportunidades seriam mais difíceis”, confidencia.
A VIDA EM PERNAMBUCO
Silva salienta que as coisas em seu estado eram muito complicadas e ainda seguem. “Mesmo com os crescimentos conquistados, ainda vemos um cenário de poucas oportunidades, pessoas que vivem só de ajudas assistenciais, muita violência e desemprego”, destaca.
AS CONDIÇÕES EM RIO CLARO
“As condições aqui são muito melhores, porque tenho a certeza de que se eu ainda estivesse lá [Pernambuco], não teria conquistado o que temos hoje, e as minhas filhas não teriam a oportunidade de estudo que estão tendo aqui”, afirma Silva.
O microempreendedor salienta que, com muito trabalho, hoje possui sua empresa de propaganda e que presta serviços para várias outras com divulgação em carros de som e distribuição de panfletos. “Tenho duas filhas que estão cursando o ensino superior em universidades de qualidade, sendo que uma está quase formada. Frente a tudo isso, para quem chegou aqui praticamente sem nada, morando de favor e comendo porque os amigos ajudavam, sem dúvidas, nossa vida aqui hoje é muito boa”, afiança.
INTOLERÂNCIA
Indagado sobre o fato de ainda haver intolerância e preconceito com relação ao Nordeste, o que se evidenciou quando do primeiro turno das Eleições ocorrido no último dia 7, em virtude da região ter sido determinante para que o pleito tivesse prosseguimento, gerando ataques ao povo nordestino, Silva diz que enxerga essa situação com muita tristeza. “Somos um só povo e uma só nação.
Sabemos que essas manifestações de violência contra o povo nordestino vêm de uma minoria de intolerantes que precisa entender que os nordestinos enfrentam muitas dificuldades e, por isso, se tornaram escravos do pouco que o governo dá, e é por isso que, muitas vezes, somado à falta de ensino, de raciocínio e, principalmente, pela falta de oportunidades, são obrigados a acreditar que o pouco que recebem não vai faltar. Compreendo que alimentar o ódio através da intolerância é desnecessário, porque só incita a violência e reforça o preconceito”, expõe o microempresário.
PRECONCEITO
Silva garante que já sofreu e ainda sofre preconceito por ser nordestino. “Já perdi serviços por ser conhecido como Fernando do Nordeste. Quando eu fui até uma agência comprar um carro, uma vendedora, ao perceber que eu era nordestino, disse que o banco não aprovaria a minha ficha, porque não estavam aprovando ficha de nordestino”, relembra e afiança que, mesmo com tudo que passou – e ainda passa –, continua amando Rio Claro e seguindo em frente, “pois nada faz com que eu desista de continuar em busca dos meus objetivos e do bem-estar da minha família”.
Por fim, Silva faz menção a um projeto que idealizou e que visa dar amparo a famílias carentes da cidade. “Aproveito esse espaço também para destacar o projeto Unidos por Rio Claro, que tem por objetivo fazer o bem aos que mais precisam e que tem ajudado muitas famílias carentes de nossa cidade”, destaca.
Por Murilo Pompermayer