Quieta non movere
► A bem da verdade, é preciso ser dito que o Legislativo rio-clarense sofre pela implantação de fatores que solaparam o interesse coletivo em seus pilares fundantes. Em outras palavras, ainda vive-se dos efeitos advindos dos atos nocivos criados e sustentados por políticos que já não estão mais lá, mas que deixaram como legado a corrosão total da governança e da moralidade.
►Desde que passei a acompanhar as legislaturas que se sucederam (agora mais distante, confesso), a desconfiguração é nítida e, até agora, não vi nenhum parlamentar com força ou vontade para refundar o legislativo para atender o interesse da maioria da população.
►O modus operandi é o mesmo da década de 80, que perpetuou com a assunção de parentes, e a velha política do toma lá dá cá, do trabalho social escravagista e da dependência, das ameaças veladas, dos gritos e do destemperamento, características comuns de locais onde o patrimonialismo colonial ainda perdura, mesmo com o avançar dos anos…
►As regras ou a “ética” criada, ampliada e modernizada nos corredores do Paço Municipal (o que já é uma aberração, ocupar o mesmo local que o Executivo) engessam inclusive, meus nobres leitores, o funcionamento das demais áreas públicas do Executivo rio-clarense. E acabam se transformando em um local da falsa moralidade, pois tais fariseus perpetuam-se na Câmara para conseguir salários, terrenos, forninhos de microondas, cargos e riquezas, em detrimento a toda uma população que em sua maioria é esquecida pelas políticas públicas transformadoras.
►E aqui, prefiro evitar apontar dedo para y ou x, já que em todas as legislaturas que presenciei (em menor ou maior grau), esse sistema de sequestro de finalidade tem se perpetuando. Quem pisou fora da cartilha acabou execrado da vida pública.
►Agindo como um grande clube do bolinha, onde esses abençoados líderes carismáticos, suprassumos da cidade, rei de estagiários, sócios de empreiteiras, filhos dos donos do Egito, coletores de recursos diversos, se reúnem para colocar as cartas marcadas na mesa e definir o futuro da cidade, fingindo, muitas das vezes, não terem conhecimento da história recente, e como pardais displicentes sobrevoando as mesmas feridas pustulentas, com o “Bocão” aberto em plena Zona Azul. Existe solução? Sinceramente, não.
►Antonio Archangelo é gestor, pesquisador e professor.
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