O título deste artigo, já adianto, não será de fácil entendimento senão para alguns realmente despertos. Mas, na falta de um melhor, talvez ele caiba na reflexão que aqui se propõe.
É muito triste e revoltante a situação política e social de nosso país. E pior, não se vê nenhuma iniciativa de reação a esse estado de coisa lastimável e lamentável.
Temos uma imprensa, em sua maioria, e, infelizmente, vendida. Um congresso chantageado, acuado e incapaz. Entidades de classe, corrompidas e comprometidas com o que há de pior na sociedade humana atual. Segmentos religiosos, acomodados na preservação dos seus próprios interesses. Uma Justiça, que governa autoritariamente, ao invés de se limitar ao seu papel bem definido constitucionalmente, de fazer justiça.
Enfim, terra arrasada. Em um país, como o nosso, de dimensões continentais, rico, e que soma mais de 200 milhões de indivíduos, este cenário é simplesmente surreal.
Como chegamos a isso? É simples. O brasileiro, em sua maioria, é superficial e imediatista. Vive em busca de satisfação e prazeres efêmeros. Não estuda para adquirir conhecimento e libertar-se da ignorância, mas, para ascender socialmente, por trás de um pretenso título de mestre ou doutor disso ou daquilo que lhe dará aparência e alguma importância. Trabalha, não para o progresso humano dele próprio e do país ao qual pertence e ao qual tudo deve, mas, para ter o que lhe interessa, o que lhe convém, e poder consumir desmedidamente.
E por isso, se contenta com a mais perigosa e, ilusória, nas mãos de irresponsáveis, vantagem do mundo capitalista, que é o crédito. Faz dele mal uso. Não o utiliza para empreender, mas, para gastar. E por isso se endivida e nunca tem capital para adquirir o que de fato necessita e o que de fato lhe pertence ou representará a sua liberdade, que é a sua autonomia de vida, ser o senhor de si mesmo.
O brasileiro detesta os dias da semana, que lhe parecem fastidiosos e intermináveis, mas, adora os finais de semana, durante os quais extravasa sem nenhum constrangimento suas imperfeiçoes morais, suas más paixões e comete todos os excessos possíveis e imagináveis, sem nenhum remorso, pudor ou arrependimento.
Parece, enfim, que vive para ele, naquilo que tem de pior. Tudo o que demanda concentração, tempo e esforço, parece assustar o brasileiro, que os repudia e se afasta naturalmente.
Orgulha-se em burlar regras, em obter vantagens indevidas, porque não tem a mínima consciência de que isso representa o prejuízo de outrem. Chore a mãe do vizinho, a minha não. Pois sim. O leitor pode considerar essas observações contumazes e muito fortes, mas, jamais poderá negar que elas correspondam à realidade.
É difícil imaginar que um país, um povo como este, possa almejar um futuro promissor. Futuro, para o Brasil, é exatamente como as sedutoras promessas indevidas das ideologias políticas ou das crenças religiosas, sejam quais forem, ou seja, é algo que jamais se realiza.
Nos habituamos a isso, a essa triste realidade, a este cenário devastador, que se tornou senso comum, rotina em nossas vidas, que nem nos incomoda mais.
É compreensível, portanto, que não nos incomoda vermos um cidadão de caráter duvidoso a ocupar o cargo mais importante da república. Afinal, foi a maioria de nós, que outorgou-lhe esse direito. Ou não? E se não foi, porque o silêncio e a omissão perante os fatos? Por que a covardia? A quem recorrer? A Deus? Lamento, mas receio que ele esteja por demais ocupado.
É justamente essa mania tão típica do brasileiro de considerar que o problema não é seu, de atribuir a representantes, direitos e deveres que de fato lhe pertencem, que se constitui o atraso detestável deste país, tão rico, tão belo, tão cheio de vida, mas tão mal tratado, tão traído e tão descuidado pela maioria de sua gente.
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Reprodução.