Meus pais tinham um restaurante ao lado da Rodovia Washinghton Luiz, no quilometro 170. Era muito movimentado e o ponto preferido dos caminhoneiros para abastecer, almoçar e pernoitar. E numa dessas noites, um caminhão estava transportando cavalos para o frigorífico e chamou a atenção de meu pai, que gostava muito de cavalos.
Um cavalo muito magro estava no meio dos outros. E como eu tinha pedido há algum tempo um cavalo, principalmente quando passava alguns dias na fazenda de meu avô, na região de Itirapina, meu pai fez uma oferta pelo animal e, no outro dia, ganhei-o com a promessa de que eu deveria cuidar bem dele.
O tempo que passou eu não sei bem, só sei que aquele cavalo magro agora estava gordo, bonito (só comia e bebia) e não tinha nenhuma outra função. Depois de conseguir uma sela completa, meu pai resolveu tentar montá-lo. E o bicho estava arredio, pulava, disparava ao redor de um campo ao lado da rodovia.
Conclusão: esse cavalo não poderia ser montado por uma criança jamais. Meu primo e eu apenas ficávamos alimentando-o. Numa manhã, decidi que teria que montá-lo, sair do cercado e sentir o vento no rosto, cavalgando ao redor.
Coloquei uma corda no pescoço, dando um nó, formando uma focinheira (bem antigo, hein!?) e, apoiando numa parte mais alta do estábulo, pulei em cima dele, me equilibrando como pude. Ao sair em disparada, não conseguia freá-lo e, num total desespero, saltei e caí no chão, todo machucado.
Lembro que, na época (tinha oito anos), senti uma mistura de tristeza e decepção. Meu pai me alertou para que, de modo algum, eu tentasse novamente essa façanha tão difícil. Não me recordo quantos arranhões sofri naquele dia e nem quanta decepção eu suportei naquela hora. O que eu sei é que não desistiria, de jeito nenhum, de dominar aquele cavalo.
Três dias depois, tomei coragem e encarei aquele obstáculo, que parecia impossível, ou seja, cavalgar sem sela e sem o freio de boca no animal. Corrigi alguns detalhes e pulei em cima dele novamente. Meu braço e perna tremiam muito e não desisti. Domei aquele animal bem maior que eu.
A gente tem a chance de aprender até com aquelas coisas que pareciam impossíveis e que, depois, se tornaram possíveis e que nos causaram tanta dor. A decepção é um convite para mudar um pouquinho a rota. É ir criando novas possibilidades, novas oportunidades para se chegar, de fato, àquilo que se quer concluir.
Na maioria das vezes, a vida nos coloca à frente de obstáculos que parecem intransponíveis e, aí, podemos entender que a vida sempre nos dá uma chance para enxergar além da decepção e recomeçar a qualquer momento que decidirmos fazê-lo. Pense nisso! MQA